terça-feira, 9 de abril de 2013

Senta Lolla, senta!

O Lollapalooza 2013 já se foi! - segunda edição do festival aqui no Brasil. O que me fez lembrar que já faz um ano que eu fui ao Lollapalooza e ainda não havia comentado nada sobre o fato - eu fui basicamente para ver Foo Fighters mas... Foi uma noite cheia encanto e alegria (sarcasmo explicado a seguir) que eu não deveria ter deixado de comentar. Esse ano eu simplesmente não tive ânimo, dinheiro ou vontade (menos dinheiro do que qualquer outra coisa mas...). Me assusta pensar que eu estava muito mais tentada a ver o show do Elton John ao ar livre, sentadinha no meu lugar do que encarar o pessoal do Lolla. Não tenho mais ânimo para encarar shows, e acho que ficaria cansada até de balançar isqueiros no ar. 

Em primeiro lugar, vale dizer que o Lollapalooza tem um apelo todo especial para quem era adolescente na década de 1990 e gostava de rock...

Parênteses: se você gostava/gosta de Heavy Metal e afins e quer discordar de mim nessa história de 'apelo para o adolescente da década de 1990', se segure - darei corda para você no futuro, quando explorar meu tema recluso predileto: "porque Metal não é Rock" e você terá muita munição para xingar muito no Twitter. Por hora, guenta aí!

... Afinal de contas, muita gente - como o meu amigo Homer Simpson -- já deu as caras no Lollapalloza original, e o festival já tem mais de 20 anos então, há um certo sentimento de carinho no ar.

Assim como na edição desse ano, o festival aconteceu no Jockey Club - tecnicamente um ótimo lugar para um evento desses: bastante espaço, fácil acesso (deu para ir a pé do metrô Butantã pra lá) e uma equipe de organização gigantesca.
Seguindo as orientações do mítico livro das "Convenções Sociais", resolvi levar meu namorado no evento - há controvérsias sobre se você pode chamar de namorado alguém que você já mora junto há 02 anos mas... outra hora. É sempre interessante levar num show de Rock alguém que:
1. Não conhece a banda.
2. Não bebe.
3. Não fuma.
4. Não gosta de multidões.
5. Fica com sono às 23:00.


Aparentemente não houve nenhuma lição aprendida desde do último show do Guns 'N' Roses. (Quando as meninas - eu e minhas irmãs - estávamos preparadas para uma madrugada de espera por já conhecer o Sr. Axl, e os meninos - seus respectivos namorados - já estavam dormindo nos colos nas bandas de abertura). Não estou querendo culpar o Ju de maneira nenhuma - até porque ele foi na medida do possível fantástico naquela noite mas... Admito que talvez não tenha sido a melhor escolha para ver o show.

Chegamos por lá com nosso kit montado (águas em copo e salgadinhos) mais ou menos 01 hora antes do show do Foo Fighters. Não fiz a mínima questão de ver as bandas anteriores, e pelo movimento na entrada eu não fui a única. Tinha a minha meta bizarra em eventos (comer um cachorro-quente fuleiro e extremamente superfaturado e tomar uma cerveja/refrigerante) e depois dar uma volta por lá mas os palcos eram bem distantes um do outro e quanto antes a gente fosse se aninhar para o lado do Foo Fitghers melhor a chance de não ver o show da pqp.

Chegar o mais perto do palco possível -- o que já foi bem longe -- foi uma verdadeira aventura. Não sei como num mundo tão cheio de joguinhos alguém ainda não criou um "chegue ao palco", no qual você deve chegar o mais próximo possível do palco sem tomar baforada de cigarro de tabaco e afins, alguém espirrar uma breja em você, sem cinza e queimaduras de cigarro e sem ter a visão bloqueada por garotas que podem sentar nos ombros dos namorados sem esmagá-los. Perguntei para o Ju onde ele preferia ficar, e a resposta foi "Em qualquer lugar que a gente não fique respirando fumaça de cigarro" -- o que eu prontamente entendi como "Sofá da nossa sala" uma vez que essa era uma condição impossível naquele ambiente, e isso já me tirou um pouco do sério e me fez perguntar "porque eu não convidei X" - X sendo qualquer pessoa que gostasse de Foo Fighters, e estivesse familiarizado com como é assistir shows na pista.

Até aí, eu poderia dizer uma coisa ou outra sobre o show - a maior delas é "O que faz toda essa gente tirando fotos distantes e borradas das bandas e atrapalhando a visão do show de todo o resto?" mas vamos deixar quieto. O que aconteceu de mais assustador foi na volta, e pode ser completamente creditado a maravilhosa administradora da linha amarela do metrô -- e que provocou um inevitável "Imagine na copa!". 

O show terminou bem antes da meia noite -- o que deixou todo mundo que veio de metrô bem seguro sobre  o fato que voltaria de metrô também -- o que não foi bem o que aconteceu. Antes de entrar em detalhes, eu gostaria de dizer que foi um tumulto do cão, com o pessoal da Via4 completamente despreparado e mostrando porquê eles não tem a mesma competência da equipe do metrô, e porquê certas coisas não devem ser privatizadas mas... O que mais me assusta, é que não saiu uma notinha no jornal no dia seguinte.

Chegando na estação Butantã, havia uma fila que dava 04 voltas na estação para entrar no metrô, que parecia ok para manter a ordem e o metrô sem superlotação - mas não era. O pessoal da linha amarela se assustou com o volume de gente, e simplesmente começou a liberar a entrada do pessoal a conta-gotas (o que eu pude comprovar bem depois) e bem abaixo da lotação do metrô em qualquer dia sem movimento. Acho que por medo de ter que fazer uma horinha extra não remunerada, eles arbitrariamente decidiram fechar o metrô 20 minutos mais cedo (às 23:45 ao invés de 00:05) o que causou um empurra empurra sem precedentes pra tentar conseguir ficar dentro da estação. Quem já foi para a estação Butantã, sabe que logo depois da entrada tem escadas fixas e rolantes (que foram desligadas), então no empurra empurra quem se encontrava na escada teve que se segurar muito pra não rolar escada abaixo.

O Ju e eu fomos para dentro da estação sem esforço -- era só tirar o pé do chão que a multidão te levava. Eu estava assustada pra caramba: cair ali era garantia de ser pisoteado. Metade das pessoas empurrava, e a outra metade gritava para se controlar e não fazer tumulto (nenhum policial, militar ou de qualquer outro tipo foi visto nas imediações). O pessoal de segurança da Via4 estava mais preocupado em fechar o portão da estação e dar umas chapuletadas em qualquer um que tentasse derrubar o portão do que com qualquer outra coisa; e embora você lamentasse a situação pelo menos podia ficar feliz que dentro do metrô você chegaria em casa em breve, certo?

Errado! Esperamos mais 50 minutos dentro da estação para conseguir passar a catraca, que ninguém sabe explicar porque estava desligada. O senso comum de todo mundo ali socado junto, sem poder sentar e num calor absurdo é que eles deveriam estar tentando conseguir mais trens para levar todo mundo mas... Depois de 50 minutos e ser uma da quarta-leva liberada (e com muito mais para trás) eu só pude concluir que o pessoal da Via4 é louco. Muita gente socada lá em cima, e o trem foi até a luz praticamente vazio... Todo mundo se entreolhava dentro do trem perguntando se perguntando a mesma coisa: "Por que só estão liberando o pessoal de pouco em pouco" -- Como na linha amarela você consegue ter uma visão geral do trem, podia ver que estava praticamente vazio com mais da metade dos acentos disponíveis, ninguém precisou nem ir de pé.

A minha última hipótese -- de que na transferência para o metrô verdadeiro déssemos de cara com poucos trens e por isso eles estariam liberando o pessoal a conta a gotas -- foi por terra quando chegamos na luz: havia mais equipe do metrô na Estação da Luz, do que havia da Via4 no Butantã, e todos eles bem ativos para orientar quem ia para que lugar. Acabei bem arrependida de ter colocado o Ju nessa roubada. Especialmente porque ele não reclamou um "A" de nada. Nem das baforadas, nem da lama do Jockey, nem do empurra empurra (embora eu pudesse ver a cara de tensão dele) etc.

Então quando veio o Lolla desse ano, com bandas que eu queria ver nos 03 dias... E sem dinheiro para pagar duas pessoas por 03 dias...  Decidi que: O Multishow é meu pastor, e o sofá não faltará. Tudo bem, não deu pra ver o Pearl Jam (mas eu também já vi ao vivo em algo que eu poderia chamar de "convenção de Elfos no Pacaembu" -- essa fica pra próxima) mas a integridade física da família fica garantida.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

S.O.S Declutter


Minha casa está doente -- mais precisamente, minha vida está doente. Sim, eu sou dessas que enxerga relações metafísicas entre diferentes áreas da vida, onde a maioria mais prática vê apenas problemas objetivos para serem atacados (e que de fato são atacados). Eu sou "criativamente preguiçosa", ou seja, enquanto as pessoas enxergam tarefas para serem riscadas, eu quero encontrar o cerne da coisa que me faz ser assim... Descobrir porque eu não consigo me organizar, porque não consigo me dedicar a tarefas e disciplinas cotidianas e quem sabe assim, cortar o mal pela raiz.

Nem preciso dizer que não funciona muito bem, preciso?

Acho que algumas coisas "over" na vida estão todas relacionadas: excesso de gastos, excesso de peso e excesso de bagunças! Mas embora eu tenha essa consciência há bastante tempo, nunca em incomodou tanto perceber que elas estão em um estado que não dá mais para aguentar.

Depois que eu fui morar com meu namorado -- e lá se vão dois anos -- muitos dos meus defeitos se potencializaram. Uma coisa é ser desorganizada e bagunceira (são coisas absolutamente diferentes) na casa da mãe, onde alguém intervém na sua loucura em intervalos regulares. Outra coisa é ser a pessoa que tem que intervir -- quando você não dá conta nem de você mesma. Meu namorado é perfeito em uma porção de coisas mas, quando se refere a arrumação e ordem da casa... Bem, na comparação ele faz eu parecer uma maníaca por limpeza com TOC -- e eu estou longe de ser qualquer coisa próximo disso, então... Se você quiser estudar o "caos primordial" pós Big Bang, eu sugiro que visite minha casa.

Tinha todo um sonho para esse final de semana que passou no qual eu seria uma dona de casa dedicada, e colocaria uns 60% de tudo em ordem. A verdade não poderia ficar mais longe: exagerei em sapatos desconfortáveis e tênis não adequados para academia na sexta-feira, e fiquei com uma dor nas pernas violenta. Para piorar, tentei fazer a minha saída de bateção de pernas no sábado (que eu havia agendado há algum tempo) e acabei abortando no meio da coisa por não conseguir mais andar. Passei o resto do final de semana na cama, acessando a internet por iPad e assistindo televisão. O resultado foi tudo que eu mais amo: começar a segunda-feira no meio do caos: muita roupa pra lavar que não foi lavada, pilhas de louça suja na pia e muita comida estragada na geladeira que aguarda o descarte há alguns finais de semana.

Nessas horas, eu queria ter nascido uma geração antes -- se é pra trabalhar fora, dentro e em todo o canto, que pelo menos fosse com competência nos afazeres domésticos -- essa história de ser da geração que acreditou que estava estudando para ter uma super carreira e que as atividades de manutenção da própria vida se resolveriam magicamente é uma droga. Ainda mais quando combinada com a minha crença pessoal de que "diarista é derrota" -- afinal de contas milhares e milhares de americanas e europeias equilibram tudo muito bem sem elas, porque você que ganha muito menos que elas vai querer brincar de ser patroa? Isso e o fato de que eu odeio terceiros mexendo nas minhas coisas. Mas aí quando o domingo estava acabando... Simplesmente não deu! Baixou a Mulher Declutter!

Declutter, caso você ainda não tenha ouvido falar, é um termo inglês sem uma tradução precisa em português mas que pode ser entendido como "Destralhar". "Cluttering" e "Hoarding" são outros termos associados... Onde Hoarding definitivamente é o pior (se você tem o canal Discovery Home&Health na TV, eu recomendo fortemente a série "Acumuladores" para entender o potencial do mal sobre o termo -- mas não me responsabilizo pelos traumas adquiridos). Pessoas afligidas pela tralha -- como é o meu caso -- tem mania de acumular coisas desnecessárias ou um excesso de coisas. Ainda não cheguei, felizmente, no nível dos casos vistos em Acumuladores (pessoas que não conseguem jogar caixas de pizza fora, lixo, etiquetas de roupa etc.), mas às vezes sinto que se não tomar cuidado esse será um futuro possível.

Pensei nessa frase ao lado quando me dei conta disso. Não precisa também ser nenhum Freud para perceber que existe um componente psicológico forte nessa situação -- eu sei que estou tentando compensar alguma coisa comprando tanta tranqueira e até arrisco alguns palpites sobre o quê, mas... Não consigo mais viver assim. Ontem a noite eu passei por um ano de revistas Vida Simples (percebe a ironia?), WomenHealth, Saúde e Marie Claire... Só vendo se existia algum artigo útil que eu gostaria de escanear (nesses casos recortei eles da revista e coloquei numa pasta para escanear depois) e joguei a revista em uma caixa de descarte que hoje o Ju colocou para fora. Como não bastassem as tralhas adquiridas, existem as tralhas distribuídas - há umas 03 semanas a Folha de São Paulo resolveu "me dar uma assinatura". Desde então, de segunda a sábado, lá pelas cinco da manhã, o entregador arremessa um jornal no quintal - então tinha mais umas duas semanas de jornais pra descartar, que também já foram embora. Hoje é dia de encarar as InfoExame, Rolling Stones e Piauí (porque eu assino tanta revista que não consigo ler? Cluttering na veia!).

Esse nervoso do "eu quero me ver livre de tudo isso", afetou até o meu trabalho nessa segunda. Tivemos um problema de energia do prédio do escritório que resultou em Home Office para a equipe toda - desde então eu já lavei fogão, toda a louça (com exceção das panelas de Mordor), arrumei a ordem da roupa pra lavar, guardei todo o meu guarda-roupa (aguardava há meses) e reorganizei minha caixa de cosméticos... Tudo isso gerou 03 sacos de lixo gigantes na cozinha, que eu estou até com medo de colocar pro lixeiro tudo de uma vez e alguém desconfiar que eu estou jogando corpos no lixo.

Sei que isso é só um rompante nervoso - se eu conseguisse ser mais disciplinada e constante, esse é o tipo de coisa que não precisaria ser feita mas... Dá uma certa esperança. A casa e a vida estão doentes pra caramba mas... Talvez eu ainda possa vencer.