segunda-feira, 8 de abril de 2013

S.O.S Declutter


Minha casa está doente -- mais precisamente, minha vida está doente. Sim, eu sou dessas que enxerga relações metafísicas entre diferentes áreas da vida, onde a maioria mais prática vê apenas problemas objetivos para serem atacados (e que de fato são atacados). Eu sou "criativamente preguiçosa", ou seja, enquanto as pessoas enxergam tarefas para serem riscadas, eu quero encontrar o cerne da coisa que me faz ser assim... Descobrir porque eu não consigo me organizar, porque não consigo me dedicar a tarefas e disciplinas cotidianas e quem sabe assim, cortar o mal pela raiz.

Nem preciso dizer que não funciona muito bem, preciso?

Acho que algumas coisas "over" na vida estão todas relacionadas: excesso de gastos, excesso de peso e excesso de bagunças! Mas embora eu tenha essa consciência há bastante tempo, nunca em incomodou tanto perceber que elas estão em um estado que não dá mais para aguentar.

Depois que eu fui morar com meu namorado -- e lá se vão dois anos -- muitos dos meus defeitos se potencializaram. Uma coisa é ser desorganizada e bagunceira (são coisas absolutamente diferentes) na casa da mãe, onde alguém intervém na sua loucura em intervalos regulares. Outra coisa é ser a pessoa que tem que intervir -- quando você não dá conta nem de você mesma. Meu namorado é perfeito em uma porção de coisas mas, quando se refere a arrumação e ordem da casa... Bem, na comparação ele faz eu parecer uma maníaca por limpeza com TOC -- e eu estou longe de ser qualquer coisa próximo disso, então... Se você quiser estudar o "caos primordial" pós Big Bang, eu sugiro que visite minha casa.

Tinha todo um sonho para esse final de semana que passou no qual eu seria uma dona de casa dedicada, e colocaria uns 60% de tudo em ordem. A verdade não poderia ficar mais longe: exagerei em sapatos desconfortáveis e tênis não adequados para academia na sexta-feira, e fiquei com uma dor nas pernas violenta. Para piorar, tentei fazer a minha saída de bateção de pernas no sábado (que eu havia agendado há algum tempo) e acabei abortando no meio da coisa por não conseguir mais andar. Passei o resto do final de semana na cama, acessando a internet por iPad e assistindo televisão. O resultado foi tudo que eu mais amo: começar a segunda-feira no meio do caos: muita roupa pra lavar que não foi lavada, pilhas de louça suja na pia e muita comida estragada na geladeira que aguarda o descarte há alguns finais de semana.

Nessas horas, eu queria ter nascido uma geração antes -- se é pra trabalhar fora, dentro e em todo o canto, que pelo menos fosse com competência nos afazeres domésticos -- essa história de ser da geração que acreditou que estava estudando para ter uma super carreira e que as atividades de manutenção da própria vida se resolveriam magicamente é uma droga. Ainda mais quando combinada com a minha crença pessoal de que "diarista é derrota" -- afinal de contas milhares e milhares de americanas e europeias equilibram tudo muito bem sem elas, porque você que ganha muito menos que elas vai querer brincar de ser patroa? Isso e o fato de que eu odeio terceiros mexendo nas minhas coisas. Mas aí quando o domingo estava acabando... Simplesmente não deu! Baixou a Mulher Declutter!

Declutter, caso você ainda não tenha ouvido falar, é um termo inglês sem uma tradução precisa em português mas que pode ser entendido como "Destralhar". "Cluttering" e "Hoarding" são outros termos associados... Onde Hoarding definitivamente é o pior (se você tem o canal Discovery Home&Health na TV, eu recomendo fortemente a série "Acumuladores" para entender o potencial do mal sobre o termo -- mas não me responsabilizo pelos traumas adquiridos). Pessoas afligidas pela tralha -- como é o meu caso -- tem mania de acumular coisas desnecessárias ou um excesso de coisas. Ainda não cheguei, felizmente, no nível dos casos vistos em Acumuladores (pessoas que não conseguem jogar caixas de pizza fora, lixo, etiquetas de roupa etc.), mas às vezes sinto que se não tomar cuidado esse será um futuro possível.

Pensei nessa frase ao lado quando me dei conta disso. Não precisa também ser nenhum Freud para perceber que existe um componente psicológico forte nessa situação -- eu sei que estou tentando compensar alguma coisa comprando tanta tranqueira e até arrisco alguns palpites sobre o quê, mas... Não consigo mais viver assim. Ontem a noite eu passei por um ano de revistas Vida Simples (percebe a ironia?), WomenHealth, Saúde e Marie Claire... Só vendo se existia algum artigo útil que eu gostaria de escanear (nesses casos recortei eles da revista e coloquei numa pasta para escanear depois) e joguei a revista em uma caixa de descarte que hoje o Ju colocou para fora. Como não bastassem as tralhas adquiridas, existem as tralhas distribuídas - há umas 03 semanas a Folha de São Paulo resolveu "me dar uma assinatura". Desde então, de segunda a sábado, lá pelas cinco da manhã, o entregador arremessa um jornal no quintal - então tinha mais umas duas semanas de jornais pra descartar, que também já foram embora. Hoje é dia de encarar as InfoExame, Rolling Stones e Piauí (porque eu assino tanta revista que não consigo ler? Cluttering na veia!).

Esse nervoso do "eu quero me ver livre de tudo isso", afetou até o meu trabalho nessa segunda. Tivemos um problema de energia do prédio do escritório que resultou em Home Office para a equipe toda - desde então eu já lavei fogão, toda a louça (com exceção das panelas de Mordor), arrumei a ordem da roupa pra lavar, guardei todo o meu guarda-roupa (aguardava há meses) e reorganizei minha caixa de cosméticos... Tudo isso gerou 03 sacos de lixo gigantes na cozinha, que eu estou até com medo de colocar pro lixeiro tudo de uma vez e alguém desconfiar que eu estou jogando corpos no lixo.

Sei que isso é só um rompante nervoso - se eu conseguisse ser mais disciplinada e constante, esse é o tipo de coisa que não precisaria ser feita mas... Dá uma certa esperança. A casa e a vida estão doentes pra caramba mas... Talvez eu ainda possa vencer.

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