segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Estranha Natureza

Who am I?
Valezki
From: http://www.flickr.com/photos/valezki/5881304494/

Sempre me lembro de uma cena de "Noiva em Fuga" quando, depois de fugir de seu último casamento, a personagem da Julia Roberts decide parar para investigar quem ela realmente é... Inclusive testando uma dezena de formas de preparação de ovos, para descobrir qual a sua favorita -- porque até o momento, cada noivo achava que sua opção favorita era a mesma que a dele; ela nunca contrariava ou fazia sua vontade valer, chegando a um ponto que nem ela sabia mais o que gostava ou não gostava, o que queria ou não queria.

Salvo algumas diferenças, acho que o meu problema no momento é semelhante -- mas preciso ser mais diligente com ele. Há 03 meses não estou envolvida em nenhuma atividade regular de trabalho -- sai de férias num rompante "Aé? Então foda-se!" abençoado, fui para França (que chique pensar os problemas em meio a Croissants, rs) esperando algum tipo de iluminação sobre o que fazer da vida. É lógico que nada veio dessa forma -- nada nunca vem dessa forma -- e desde então tenho me questionado: "Quem sou eu, e o que vou fazer da vida?".

O momento não poderia ser menos propício (mas também, os momentos dificilmente são). Ficar 03 meses só com freelinhas despretensiosos pode derrubar completamente um sistema financeiro já falido mas... Pensando bem, não existiria momento propício tão cedo. E o tempo agora é definitivo: acabei de fazer 33 anos, já não sou nenhuma garota a despeito da idade mental e comecei a pensar: "Onde diabos estava com a cabeça levando a vida com a barriga desse jeito, até essa idade, sabendo que eu tenho todos os sonhos de consumo e de vida básicos 'pequeno-burguês' que me são de direito -- filhos, casa, carro etc.?". Bem, eu estava financiando com meu tempo e minha ausência de realização os sonhos "pequeno-burguês" alheios... Isso não é culpa dos alheios mas... Pra mim já deu.

A grande questão é: eu não sei o que fazer!

Não é uma questão de "eu sempre tive um sonho de ser jogadora do Harlem Globetrotters e agora que tenho a chance não sei se vai dar certo ou tenho medo de perseguir esse sonho"... Eu fiquei tanto tempo levando a vida profissional com a barriga, que eu não sei se tenho sonhos. Coisas que sempre pareceram muito certas (desenhar, escrever) se tornaram uma névoa de impossibilidades de concretização, e muito abstratas para serem colocadas em prática. Se um gênio da lampada aparecesse por aqui hoje e me desse o direito de escolher qualquer trabalho na terra com um salário milionário, eu teria que pedir para passar. Tudo o que sei é que eu NÃO QUERO um trabalho "corporativo"... E talvez isso já seja alguma coisa.

"A leopard cannot change its spots" -- essa estranha natureza.

As coisas ficaram tão críticas que eu me esqueci de mim. De vez em quando vejo alguma notícia sobre colegas de faculdade e seus trabalhos e me lembro: "Ah é... Você também fez publicidade e poderia estar trabalhando com comunicação... Você costumava gostar disso, se lembra?" -- como se tudo isso tivesse acontecido há décadas atrás ou até em outra vida.

No momento, na ausência de um sentimento interior que me tome e diga "é isso!", estou tentando investir na redescoberta da minha natureza -- coisas que eu gostava de fazer, do jeito que gostava de fazer. Achei engraçado a quantidade de referências em livros e vídeos sobre coaching falando que "aquilo que você faz aos dez anos para se divertir diz muito", mas infelizmente quando eu tinha 10 anos ainda não havia internet, então acho que isso limita um pouco as coisas, rs. Na verdade, eu que sempre lembro de tudo, não consigo me lembrar o que eu fazia para me divertir aos dez anos.

Talvez a coisa seja um pouco mais complicada do que parece e eu já não saiba há um bom tempo o que me move, o que me alegra, o que me diverte e o que me ilumina -- complicado tudo isso agora, com os credores batendo na porta.



quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Faz-me rir!

Let Them Fly - Brian Oldham

"Just remember, when you should grab something, grab it; when you should let go, let go." 
—Taoist Proverb

Para quem trabalha com palavras é sempre um pouco frustrante perceber que você não tem poder nenhum sobre o que as pessoas vão entender. Cada um está no seu "quadrado" (desculpe pela expressão) e, no que se refere a certos assuntos, elas simplesmente reverberam uma série de pensamentos que já estão em suas cabeças; deixando que as nossas palavras caiam por lá apenas como vapor fino em uma noite escaldante. Você pode fazer a questão que quiser em falar, mas isso não significa de maneira nenhuma que será ouvida -- muito menos compreendida.

Tenho essa mania de acreditar que uma discussão não está terminada até que a outra parte saiba exatamente o que eu quero dizer. Até que todas as abobrinhas e minhocas entaladas na garganta sejam postas pra fora, apresentadas, destrinchadas e catalogadas. Ontem eu fiz um teste: deixar isso de lado pelo menos uma vez; por mais que tenha me custado umas 12 horas de ansiedade em escolher as palavras certas (ou melhor, suficientes), não falar demais, não tomar partido, não fazer acusações, não pedir reparações... Ser o mais objetiva, metódica e cirúrgica possível sem ser ríspida e... Eu não poderia ter ficado mais surpresa com o resultado.

Primeiro, porque depois de tanta ansiedade dessa parte, minha resposta poderia ter sido "Rosebud" e o resultado seria o mesmo -- então de que adiantou tanto estomago embrulhado? E depois por perceber que as pessoas podem se relacionar com você sem partilhar valores do mesmo universo (será que quando você diz que não quer fazer algo nem que te paguem fica implícito que você aceitaria fazer a mesma coisa de graça? Faz-me rir!).

Todo episódio me fez lembrar do meu reality show predileto (ACUMULADORES). Muitas daquelas pessoas tem pilhas e pilhas de tralha em casa, estão sendo prejudicadas em todos os aspectos por elas mas ainda se apegam a todo aquele lixo. Na maioria das vezes quando o psicólogo responsável tenta entender porque, um dos grandes motivos é que as pessoas pagaram bem caro por tudo aquilo que hoje atrapalha a vida delas -- e é difícil, eu entendo, assumir que você tem que recomeçar do zero jogando tanto "valor" fora. 

Mas para a série, para o episódio de ontem na minha vida, e para todo o resto, o resultado é o mesmo: lixo é lixo, não importa o quão caro você tenha pago por ele e o quanto você tenha perdido no processo. Mas a todo momento você pode fazer a decisão consciente de não guardá-lo, não carregá-lo com você e, dolorosamente o quanto for, começar do zero.

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Misplaced Professional Feelings

galileu2



"Now I'm gonna wish you never had met me
You had my heart and soul
Tears are gonna fall, rolling in the deep
And you played it to the beat"

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Uma ilustra muito louca do Shiko que foi publicada esse mês na Galileu, mais uma música muito louca da Adele retirada de seu contexto tradicional para dizer duas coisas:

  1. Eu sou incapaz de responder certos e-mails sem revirar escuridão e trevas -- sentimentos fortes para o que deveria ser apenas racional e matemáticas; e.
  2. Como diria a mamãe do Tambor: "Quando não tiver algo bom para dizer, então não diga nada". Acho que seguindo essa recomendação eu posso ficar calada por décadas, mas tudo bem.
Acho que é uma coisa bem feminina, infelizmente não-sociopata, essa coisa de se envolver visceralmente com coisas que deveriam ser apenas uma parte do seu dia e encaradas por uma simples perspectiva profissional de "vale a pena/não vale a pena". Mas é uma coisa bem específica dessa fêmea em questão se deixar consumir por elas até chegar ao nível: "Não tenho nada para lhe dar porque simplesmente não me restou nada".

Parece sofrimento de amor...
Mas é o extremo oposto -- seja o que isso for.
Até veria o lado positivo, não fosse a situação puro pólo norte.

É, eu continuo com essa mania de escrever para entender... Não para ser entendida.
Missão cumprida.