segunda-feira, 30 de julho de 2018

A Metafísica do Passar Roupa

Fonte: Pixabay
Nada melhor para fazer você abrir mão de algo, do que entender que tem que assumir TODA a responsabilidade associada a isso.

Minha mãe odeia passar roupa... Sempre odiou, continua odiando e vai morrer amaldiçoando o criador do ferro de passar roupa  -- que ela especula ser homem, é claro! E está certa, como confirma a Wikipedia. Minha relação com a tarefa, no geral, nunca foi tão cheia de tensões. Das coisas de casa, a menos que esteja muito calor, acho que é uma das coisas menos irritantes: Vc está lidando com roupa limpinha, cheirosa, deixando ainda mais bonita... Ganha de dez de qualquer pia de louça suja, banheiro e afins não é mesmo?

Isso não significa que você vai me ver correndo por aí com um ferro de passar roupa. Até porque é quente, perigoso e necessitaria de uma extensão -- ou seja, totalmente não recomendado (não tentem fazer isso em casa crianças). E como 99% dos meus hábitos e rotinas de casa giram em torno da minha capacidade de vencer a preguiça, assumo que eu não dedico tanto tempo assim ao ferro. Costumo secar roupas no cabide para já secarem praticamente perfeitas (ainda mais para quem trabalha em Home Office), meu marido é responsável por passar as dele... Fico basicamente com a responsabilidade de passar as da filha, e as roupas de sair -- com o péssimo hábito de só fazer isso quando necessário, ao invés de centralizar isso em um dia/horário.

Mas e aí? Porque eu comecei a falar de passar roupa afinal? 

Atualmente, estou lendo o livro "Os Segredos do Guarda-roupa Europeu" da Anuschka Rees. A ideia por trás da leitura é ambiciosa: ajudar no descarte das roupas que eu não uso (dado que sempre estou variando entre as mesmas 20 peças), tentar montar algum estilo pessoal mais estruturado (ao invés de juntar peças que eu acho legal, mas que não combinam entre si). Estou a uns 60% da leitura, e já vi que há bastante trabalho a ser feito. Tanto, que estou me dedicando primeiro a leitura, depois vou repassar o livro em busca das ações necessárias -- e já sugerindo: editores de livros focados em como fazer alguma coisa: incluam checklists, quadro de atividades, ou algo assim para ajudar as pessoas com "Agora eu faço o que? O que eu faço primeiro?" em leituras desse tipo.

Foi aí que eu percebi a importância "metafísica" de passar roupa. Mais do que deixar a roupa socialmente aceitável, ao passar roupa você acaba se encontrando com seu guarda-roupa, com um pouco mais de cuidado -- percebe uma ou outra costura que não está ok, uma ou outra peça que está mais desgastada. Mas mais do que isso: é fácil ter um guarda-roupa abarrotado de coisas quando você não precisa, regularmente, dar essa atenção toda a todas as peças. É desgastante passar 30, 40 peças seguidas. Em um ponto ou outro, você começa a se questionar se deseja mesmo investir tanto tempo da sua vida na manutenção de determinadas peças. Ou será que vale mesmo a pena ficar de pé, gastando energia, com aquela camisa que amassa só de olhar, e que você nem gosta tanto assim pra começo de conversa?

E é por isso também que quem ter cuidados domiciliares terceirizados (familiares, diaristas, empregadas ou lavanderias, por exemplo) acabam mantendo um guarda-roupa muito maior, sem sentir esse peso. Nesse caso, você não está regularmente em contato com o "peso" de manutenção daquele abarrotado de coisas, porque o trabalho pesado está com outro. Pra você é só abrir o guarda-roupa, escolher uma peça, experimentar, não gostar e jogar de volta no monte.

Resgatando costumes

Ainda acho ridículo que seja assim, mas não deixa de ser verdade: a minha grande luta da vida adulta é aprender a lidar com o cotidiano. Aprender a executar tarefas -- ou melhor, quando executá-las, com que regularidade e de fato executá-las  -- é de longe mais difícil para mim do que qualquer problema cabeludo em EaD. E conforme eu vou retomando, e descobrindo como fazer essas coisas por mim mesma (descolando da ideia de que o jeito que a minha mãe fazia era o "certo"), vou notando os benefícios paralelos: disciplina, limites, responsabilidade.

E como eu sou uma das pessoas que adora as coisas limpas e arrumadas, mas que odeia investir qualquer tempo e esforço para que isso aconteça, fica clara a necessidade de voltar a passar roupa, regulamente, com cuidado, dia e horário se eu quiser de fato "desapegar" do volume de coisas que eu tenho em mente (pelo menos uns 50%). Somente com o ferro em mãos, tendo que encarar alguns minutos, peça por peça, é que o meu cérebro apegado vai chegar a conclusão que "Eh, talvez eu não goste mais tanto assim dessa blusinha que eu já tenho há uns 10 anos e que saiu da categoria 'aceitável pra pijama' há alguns anos.

terça-feira, 17 de julho de 2018

"Ando só, pois só eu sei, pra onde ir, por onde andei..."

Estou há meses segurando postagem por aqui... Isso é um blog pessoal, mas eu havia feito votos, há muito tempo atrás, de não ficar sangrando em público -- sabe como é, costuma chamar atenção dos tubarões, rs. Mas por outro lado, eu esvaziei tanto esse blog nos últimos anos que aqui é quase como escrever no meu diário pessoal. "Então porque 'indivídua' você não deixa pra desabafar por lá?". É uma boa questão! E para ela eu só tenho uma resposta que beira o metafísico: Quando escrevo no meu diário, parece que eu só elaborei a dor -- mas ela continua por lá. Por aqui, eu jogo ao vento e sigo com a vida.

Se por acaso você deu de cair por aqui agora, não sai correndo -- ainda não -- eu prometo que essas postagens em carne viva (mas muitas vezes enigmáticas para quem está de fora) não serão a regra. Mas hoje eu precisava de um lugar para reclamar sobre como "ser adulto é difícil" -- especialmente adulto, mãe, profissional autônoma/freelancer/empreendedora individual, dona de casa, esposa. Sei que com 37 anos, quase 38, eu já deveria ter ganho alguma experiência e alguma tração mas... Não.

E eu me sinto só... Incrivelmente e irremediavelmente só... Especialmente pq vivemos em um mundo (e eu me incluo nisso também, não estou tirando o meu da reta) que é ótimo em falar... Mas péssimo em escutar. Compartilhar suas angustias é inviável... Especialmente quando você quer compartilhar e receber alguma compaixão, que alguém lhe diga "Eu sei que está foda, eu sei que é foda, mas tudo vai ficar bem, você vai ver". Se você fala com alguém de outra geração, está reclamando de mais "pq imagine no meu tempo... " e lá vai a sua angustia relativizada. Se compartilha com seu companheiro -- por melhor que ele seja, e é -- o que vem são sugestões do que você "poderia", "deveria" ou promessas de um futuro melhor.

Poderia citar diversos exemplos, mas a questão essencial é: você não é ouvida, suas angústias não são validadas, e realmente parece que ninguém é capaz de lhe entender ou lhe escutar. Não existe um "Fudustê"; meu termo para "O que existe de fudido em mim reconhece o que existe de fudido em você". Parece que você é a única seguindo pela vida, se arrastando aos pedaços, enquanto os outros são perfeitas bonecas de porcelana que não sabem ou simplesmente não querem saber que algo não está correto. Parece que se alguém admitir "É garota, estamos todos ferrados e tem dias que eu nem sei como levantamos da cama", a polícia do "Está tudo ok, está tudo normal" vai bater na porta e dizer que você não é um bom cidadão.

Sinto que estou com pratos demais no ar e que atualmente, eu não tenho liberdade para ser responsável por eles... Sinto que aquele "só você pode mudar sua vida" nem mais se aplica, pois existem tantas responsabilidades competindo entre si nas quais eu estou irremediavelmente só, que não... Eu não posso mudar minha vida. E eu simplesmente não consigo aceitar, sem me debater fortemente, que talvez muitas das coisas que eu quero, simplesmente não são possíveis agora -- e eu nem consigo teorizar se algum dia serão. É a angustia de olhar para trás, e ver que suas expectativas não viraram realidade. Olhar para frente, e não se ver capaz de traçar planos. Olhar para o presente e ver tanta coisa igualmente importante a ser feita, e não ter lastro algum para escolher entre elas. Tudo isso somado a certeza de que não há para onde correr, ou com quem contar... Paralisia, solidão e angustia definem o momento.