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"Ando só, pois só eu sei, pra onde ir, por onde andei..."

Estou há meses segurando postagem por aqui... Isso é um blog pessoal, mas eu havia feito votos, há muito tempo atrás, de não ficar sangrando em público -- sabe como é, costuma chamar atenção dos tubarões, rs. Mas por outro lado, eu esvaziei tanto esse blog nos últimos anos que aqui é quase como escrever no meu diário pessoal. "Então porque 'indivídua' você não deixa pra desabafar por lá?". É uma boa questão! E para ela eu só tenho uma resposta que beira o metafísico: Quando escrevo no meu diário, parece que eu só elaborei a dor -- mas ela continua por lá. Por aqui, eu jogo ao vento e sigo com a vida.

Se por acaso você deu de cair por aqui agora, não sai correndo -- ainda não -- eu prometo que essas postagens em carne viva (mas muitas vezes enigmáticas para quem está de fora) não serão a regra. Mas hoje eu precisava de um lugar para reclamar sobre como "ser adulto é difícil" -- especialmente adulto, mãe, profissional autônoma/freelancer/empreendedora individual, dona de casa, esposa. Sei que com 37 anos, quase 38, eu já deveria ter ganho alguma experiência e alguma tração mas... Não.

E eu me sinto só... Incrivelmente e irremediavelmente só... Especialmente pq vivemos em um mundo (e eu me incluo nisso também, não estou tirando o meu da reta) que é ótimo em falar... Mas péssimo em escutar. Compartilhar suas angustias é inviável... Especialmente quando você quer compartilhar e receber alguma compaixão, que alguém lhe diga "Eu sei que está foda, eu sei que é foda, mas tudo vai ficar bem, você vai ver". Se você fala com alguém de outra geração, está reclamando de mais "pq imagine no meu tempo... " e lá vai a sua angustia relativizada. Se compartilha com seu companheiro -- por melhor que ele seja, e é -- o que vem são sugestões do que você "poderia", "deveria" ou promessas de um futuro melhor.

Poderia citar diversos exemplos, mas a questão essencial é: você não é ouvida, suas angústias não são validadas, e realmente parece que ninguém é capaz de lhe entender ou lhe escutar. Não existe um "Fudustê"; meu termo para "O que existe de fudido em mim reconhece o que existe de fudido em você". Parece que você é a única seguindo pela vida, se arrastando aos pedaços, enquanto os outros são perfeitas bonecas de porcelana que não sabem ou simplesmente não querem saber que algo não está correto. Parece que se alguém admitir "É garota, estamos todos ferrados e tem dias que eu nem sei como levantamos da cama", a polícia do "Está tudo ok, está tudo normal" vai bater na porta e dizer que você não é um bom cidadão.

Sinto que estou com pratos demais no ar e que atualmente, eu não tenho liberdade para ser responsável por eles... Sinto que aquele "só você pode mudar sua vida" nem mais se aplica, pois existem tantas responsabilidades competindo entre si nas quais eu estou irremediavelmente só, que não... Eu não posso mudar minha vida. E eu simplesmente não consigo aceitar, sem me debater fortemente, que talvez muitas das coisas que eu quero, simplesmente não são possíveis agora -- e eu nem consigo teorizar se algum dia serão. É a angustia de olhar para trás, e ver que suas expectativas não viraram realidade. Olhar para frente, e não se ver capaz de traçar planos. Olhar para o presente e ver tanta coisa igualmente importante a ser feita, e não ter lastro algum para escolher entre elas. Tudo isso somado a certeza de que não há para onde correr, ou com quem contar... Paralisia, solidão e angustia definem o momento.

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