sábado, 27 de janeiro de 2018

Eu Deveria Estar Limpando…

Pensamentos sobre acumulo, organização, limpeza… E como eles podem se transformar em uma pedra no sapato dos seus sonhos.
Você já leu “A Mágica da Arrumação”? Eu li, como eu já disse há pouco tempo atrás. Há aproximadamente 7 anos, desde quando eu passei a viver com o meu querido marido/namorado/pai da minha filha, eu tenho lido muitos livros sobre organização, produtividade, limpeza doméstica. Antes disso eu também lia muito sobre produtividade — mas a minha ideia principal era “Como fazer mais coisas?”. Depois de começar a viver a dois (e agora 3) a pergunta principal se tornou “Como fazer o mínimo pra não morrer soterrada na bagunça e vivendo de ifood?’. E claro, ler a respeito desse tipo de coisa é sempre muito mais fácil do que realmente botar a mão na massa (e de preferência de luvinha, que eu tenho nojinho de sujeira, rs).

Oportunidade e Ameaça.

O livro da Marie Kondo me vem a cabeça porque ela tem uma posição diametralmente oposta em relação ao que a maioria das pessoas diz sobre organização (em especial sobre a parte de descarte): ao invés de fazer um pouco por dia, faça tudo de uma vez. Por setores ou temas, é claro, como ela sugere, mas tudo de uma vez — pois caso contrário você vai desanimar, ver uma pequena melhora, e começar a bagunçar tudo de novo.

Esse é o tipo de ideia que causa curto circuito no meu cérebro. Um lado de mim entende perfeitamente a necessidade de um comprometimento desse: fazer mudanças reais, fazer mudanças significativas. Porque eu me conheço e o “follow up” de tarefas recorrentes não é o meu forte. Uma vez que o desânimo ou outras prioridades tomam conta, eu vou deixando as coisas para trás e não faço mais absolutamente nada.  Por outro lado — e aqui que o curto circuito começa — isso casa perfeitamente com a minha tendência a procrastinação… Se fazer um pouco por dia não adianta, melhor não fazer nada… Ou melhor ainda: vamos adiar todo o processo para um dia que eu posso dedicar um dia inteiro — ou quem sabe — um final de semana inteiro a tarefa do descarte… Aí todo o resto que vem na sequência (limpeza e organização) poderão ser feitos de maneira prática e rápida.

Descarte, limpeza e organização não são a mesma coisa.

Parece óbvio dizer isso mas… Descarte, limpeza e organização não são a mesma coisa. Por muito tempo eu fiquei envolvida na dupla “Organização e Limpeza”, e não prestei atenção ao que era essencialmente óbvio: tem horas que não é possível organizar, é preciso descartar. Antes disso, eu sofria de “Caixite”, uma inflamação cerebral severa que faz você acreditar que todos os seus problemas de organização serão resolvidos com a compra e distribuição de todos os seus itens em caixas organizadoras. Isso é o que acontece com pessoas como eu que acreditam que todos os sonhos e impulsos que tem devem ser perseguidos imediatamente, com o mesmo nível de dedicação.  Teve vontade de tocar guitarra? Compre uma guitarra… Mas não esqueça de comprar o amplificador, o pedal, livros de instrução. O que? Agora está com vontade de fazer tricô? Já sabe: agulhas de todos os tamanhos, para todos os tipos de lã e é claro… Muitas lãs. Isso pode levar você, facilmente a dois locais: Caos e SERASA (acredite em mim, pois eu já cheguei aos dois).

Resumindo:
  • Descarte: se livrar daquilo que você tem em excesso, não quer mais ou não precisa (pode ser doando, vendendo ou simplesmente, dependendo do estado, jogar fora).
  • Organização: é o velho “cada coisa em seu lugar” — normalmente quando as coisas não tem um lugar específico, ou é porque precisam ser organizadas (e ter um lugar fixo atribuído) ou descartadas (ver tópico anterior).
  • Limpeza: atividade ROTINEIRA de manutenção dos ítens organizados e seus entornos.

Por que os acumuladores acumulam?

Se você já assistiu na TV a Cabo a qualquer episódio de “Acumulares” e não compreende como as pessoas chegaram aquela situação, eu lhe explico: pessoas com tendências acumuladoras como eu não juntam coisas… Elas juntam POSSIBILIDADES. E é por isso que é tão difícil descartar as coisas. Assumir que talvez não tenha sido uma boa ideia comprar uma guitarra, um amplificador, pedais etc., nem é a parte mais difícil.  Doar ou vender esses ítens e assumir que esse “pedacinho de possibilidade” da sua vida se encerra é. Uma vez que os itens estejam fora de casa, eu não sou mais a mulher que pode aprender a tocar guitarra assim que quiser… Eu sou a mulher que quis (passado) e não rolou (desistiu).


E então… Seu sonho é limpar?

Existe uma citação no rodapé desse blog que eu gosto muito: "That which you cannot give away, you do not possess. It possesses you" (Ivern Ball), algo como: “O você não pode dar, você não possui. Ele possui você”; ou seja, você pode pensar que tem muitas coisas que terão utilidade e serventia um dia mas, por enquanto, quem serve essas coisas é você, que re-empilha as coisas por aí, compra caixas, limpa, guarda, carrega em mudanças — e na grande maioria das vezes, sem nenhum proveito.  A natureza do item nem sequer importa. Não há diferença entre acumular sapatos, livros ou potes de sorvete: se você está guardando coisas que não está utilizando, elas não tem nenhuma serventia, porque as coisas se realizam em sua utilidade e não na sua possibilidade.

Eu, por exemplo, tenho mania da acumular livros. Uma pesquisa rápida me mostrou que em 2017 eu comprei 73 livros (entre livros físicos e ebooks). Como eu acompanho anualmente minha meta de leitura, posso lhe dizer em quem 2017 eu li 28 livros… E não, nem são 28 livros desses 73 (acho que nem metade foram livros comprados em 2017). Por que eu faço isso? Mais uma vez, porque livros representam POSSIBILIDADES. Eu compro livros de literatura, livros sobre (vamos rir) produtividade e organização, autodesenvolvimento, desenho e pintura. Cada livro que eu compro eu acredito que irá e trazer em valor acumulado de vida maior do que o valor pago… Mas o detalhe é: apenas se ele for lido. Caso contrário é apenas dinheiro que saiu da minha conta e deixou de somar pra uma viagem ou passeio legal, por exemplo — e agora está empilhado em um canto da casa esperando tempo e atenção.

E quando o final de semana chega, como hoje, e as cobranças mais recorrentes do trabalham cessam por um momento, será que eu aproveito para perseguir meus sonhos ou relaxar? Será que eu paro para desenhar, ler ou… Tentar tocar guitarra? Não. Porque a bagunça e o caos divergem minha atenção… Eu sinto que deveria estar descartando itens, organizando as coisas, fazendo limpeza para AÍ, quando tudo estiver em ordem poder fazer alguma coisa com paz e sossego. Não é louco demais? Correr para ganhar dinheiro, para comprar coisas, que vão ficar ocupando espaço até que você se canse? Até que um dia, no seu tempo livre, você tenha que se dedicar para separá-las, descartá-las e limpar a casa?

Acho que por definição eu jamais seria uma pessoa “minimalista”. Mas eu entendo o apelo. Queria chegar em dia como hoje, com a casa inteira arrumada, fazer comida e só ter uma loucinha pra lavar, colocar uma carga de roupa pra lavar e ter encerrado as atividades “pesadas” do dia, fazer um chá, sentar no meu sofá com um bom livro e ler a tarde toda… Depois deixar o livro, pegar meu sketchbook, alguns materiais de desenho e rabiscar um pouco.. Ao invés disso eu estou aqui pensando em como organizar tanto livro, onde guardo tantos sketchbooks (ou gastando neurônios em saber quantos seriam suficientes… Para um ano? Para a vida?). É difícil abrir mão de coisas que você adquiriu em troca de horas de vida (trabalhadas). Mas quando é a hora de cortar amarras e reclamar de volta apenas uma parte: a vida?

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