Pular para o conteúdo principal

No negócio de fazer Deus dar risada...

Photo by Ben White on Unsplash
Sobre porque uma decisão pesa mais do que uma tonelada de planejamentos.

Segundo o ditado: "O homem planeja e Deus ri". Minha vocação, portanto, deve ser o picadeiro -- porque eu adoro planejar, muito mais do que executar (e provavelmente é daí que vem boa parte das risadas de Deus). Como eu não sou uma pessoa muito "rápida" para as coisas cotidianas, só foi preciso 37 anos para que eu percebesse que o meu foco talvez estivesse na coisa errada... Afinal, por que tanto planejamento nem sempre dá certo? O que foi diferente nas vezes em que o planejamento funcionou e não foi um simples exercício de criação de metas e etapas?


A palavra correta é "INTENSÃO".

Não, eu não fiquei analfabeta de repente -- a palavra que eu quero usar é mesmo esse intensão com "s", conforme visto aqui. A intenção com "ç", que é a aquela que significa "um propósito, um plano, um desejo, uma ideia, uma aspiração" sempre está ali quando a gente planeja, por melhor ou pior que o plano seja. Mas a intensão com "s", que "se refere a um aumento de tensão, de força, de energia"... Bem, essa quase nunca nem sempre está.

Essa diferença de intensidade é o que distingue uma "intenção" de uma "decisão" -- se eu tenho uma intenção, faço um planejamento. Se o planejamento é frustrado, na maior parte das vezes, assumo que a intenção não podia mesmo ser alcançada... Afinal, como um planejamento tão bem feito poderia ter dado errado? Realmente não era pra ser! Por outro lado, quando eu tenho uma decisão, o planejamento se torna uma estruturação de possibilidades, mas ele não é senhor... Planejou e não deu certo? Plano B. Não deu certo de novo? Plano C... E assim vai, porque a decisão é inegociável e afinal de contas o alfabeto tem 26 letras. Retornamos à prancheta com a mesma disposição do Coiote em pegar o Papa-léguas.

Sorvetes, testas e sua mútua atração

Fazendo uma retrospectiva de vida, alguns sorvetes acertam em cheio a testa! Quantas vezes eu abracei um "planejamento" ao invés de abraçar uma "decisão" e acabei frustrada com o resultado? Diversas vezes... É o que eu hoje chamo de "subir na esteira dos Jetsons" (link explicativo para qualquer um com menos de 30): você abraça um caminho, um processo, uma sequencia de etapas (mais ou menos testadas e comprovadas) e espera que o resultado automático seja a conquista daquela intenção inicial.

Quanta gente por aí abraça uma faculdade em busca de um bom emprego? Uma dieta específica em busca do peso ideal? Um relacionamento padrãozinho em busca de felicidade e realização? Em todos os casos, estamos falando de gente que abraçou planejamentos e não decisões. Se a minha decisão é perder 20 quilos, eu faço "reeducação alimentar" (um planejamento) e se não funciona, eu faço "low carb" (outro planejamento). A "low carb" não funcionou? Faço "dieta mediterrânea" (mais outro planejamento) e assim por diante -- o plano não é sagrado! Sagrado deveria ser o nosso compromisso com as nossas decisões.


Os fins não justificam os meios... Mas os meios se adaptam aos fins.

Muito provavelmente você cresceu escutando algo nas linhas do "Não seja teimoso meu filho". Eu diria diferente; eu diria "Seja teimoso! SEJA TEIMOSO ATÉ OS OSSOS". Primeiro porque não sou sua mãe (então digamos que a minha responsabilidade pelo seu bom comportamento é limitada), segundo porque é muito, mas MUITO difícil mesmo estabelecer uma linha clara entre o que é persistência e o que é teimosia. Pessoalmente eu percebo que as pessoas chamam de persistência a insistência em algo que elas admiram, e teimosia a insistência em algo que elas não acham possível ou que elas preferiam que nenhuma pessoa além delas insistisse... Então sabe como é, critérios bem subjetivos.

Hoje em dia quando eu comparo "resultados alcançados" e "intenções frustradas" eu percebo que no primeiro caso há uma combinação de um "desejo ardente" (quem sabe qualquer hora eu consiga uma definição menos religiosa/soft pornô) e uma ação intensa, muitas vezes adaptada diversas vezes ao longo do caminho. Já no segundo caso, o das "intenções frustradas", o desejo muitas vezes existe mas não é aquele caso de vida ou morte -- e até pode ser o caso de uma coisa que eu "acho que deveria querer", mas não QUERO mesmo sabe? Como aquelas "decisões sociais" que todos se veem pautados a cumprir: um emprego tradicional, casar, ter filhos, comprar casa, carro etc. São coisas em que muitas vezes o nosso contexto social martela fortemente, mas que não há um desejo interior real, intenso, orientado nessa direção.

Moral da História: não é uma questão de "Como" mas de "O quê?" e "Por quê?"

Visite posts, fóruns, redes sociais. Você vai ver uma inundação de "métodos e planejamentos" -- Como Elon Musk faz para ser tão produtivo? Quais os livros Bill Gates leu? Como Fulana perdeu 30 quilos em 15 dias? Todos tão úteis quanto você querer ter o mesmo sucesso de Steve Jobs, por exemplo, e começar a andar de camisa gola rolê preta pelo resto da sua vida. O que você quer? Por que você quer? Está disposto a ser criativo nos métodos de chegar lá? Desistir dos caminhos já trilhados por outras pessoas e adaptar às suas circunstâncias? Aceitar que a sua responsabilidade é decidir "o quê" e não determinar "como"? Vou ser sincera: no meu caso é um trabalho em desenvolvimento... Só espero concluí-lo antes dos próximos 37 anos!

E pra animar o seu final de leitura...

U2 - Desire - https://youtu.be/d9TiEWVlTKg


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Livros que Indicam Livros: 1001 Livros para Ler Antes de Morrer - BEDA #11

Publicado 1 minuto antes da badalada final mas... Está valendo. Com essa história de ter uma meta ambiciosa em relação aos livros -- apesar da execução não estar acompanhando -- eu fico procurando lugares que podem me dar ideias interessantes de leitura... Embora que quem consegue fazer uma lista de 100 livros para ler com livros que tem em casa não precisa muito de inspiração -- precisa mais de bunda na cadeira, sofá ou cama e algumas horas diárias de leitura ininterrupta... Mas isso já é outra história. Acabei lembrando desse meu livro "esquecidinho" na estante, o "1001 Livros para Ler Antes de Morrer". Esse pequeno "catatau" de 960 páginas (estou denunciando a idade com esse termo? Provavelmente sim) contém uma pequena resenha dos sugeridos 1001 Livros, com um pouco de história e importância da obra. Também é um livro interessante de folhear porque você encontra pinturas e fotografias relacionadas as épocas das obras. Ele está dividido em 04 grand...

"Minha alma, sabe que viver é se entregar..."

Coruja mesmo! Mas quem mandou ter o bebê mais lindo do mundo!? Hoje Lívia fez dois meses de vida. E eu estou meio que apaixonada por essa música, " Meu Sol " do Vanguart... Talvez porque "Além do Horizonte" chame atenção especial dessa linda bebê (vá entender, a cadeirinha dela ao lado do computador fica de costas para a TV -- e a menina não quer saber de mais nada, além de Além do Horizonte... Fica virando a cabeça para ver o que está passando... Coisas da Lili daqui); e talvez também porque seja uma "música de ninar" bem gostosa de cantar. Ou simplesmente, porque esse verso inicial é "mother fucker beautiful" ( mães ainda podem usar uma expressão dessa? ). Não há o que eu pudesse ter feito na vida para ter me preparado para os últimos 02 meses... Ainda escrevo o FAQ da mãe de primeira viagem... Cuja maior descoberta é a mais inútil... Muito antes de engravidar eu queria saber se existe algo em especial ao virar mãe, que faz você come...

Atrás de toda acumulação só há duas coisas: medo e escassez.

Photo by Savs on Unsplash Passei boa parte da terça-feira de carnaval arrumando uma prateleira ao lado do meu cantinho de trabalho. Era a última prateleira que faltava dar uma geral (dessa estante, tem mais duas na fila). A arrumação era fundamental: cada vez que procurava alguma coisa por ali — ou simplesmente olhava em sua direção — algo sempre caia na minha cabeça… Ou no computador… Ou mais temível e provocador de palavrões, no pé. Mais de uma vez eu tive que segurar uma reação em cadeia de livros, cadernos e grampeadores despencando. Era como trabalhar ao lado de uma área com potencial risco de avalanche. Rearrumar áreas entulhadas que você não visita há tempos sempre nos traz doces recordações. Reencontrei cadernos antigos que ainda esperavam atribuição de funções e uso. Reencontrei livros que eu estava tão animada pra ler… Anos atrás, mas ainda assim interessantes. E é claro, encontrei livros que só alguns momentos fora de si explicam (como um “ Contabilidade ao alcance...