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Imperfeitamente perfeitos...

Photo by Simson Petrol on Unsplash
Não é a primeira vez -- e provavelmente não será a última -- que eu falo do meu amor por cadernos... Sobre a minha necessidade de ter sempre um "escolhido" que atua como um misto de Bullet Journal, Common Place Book, Diário e Caderno de Estudos em um caderninho só, que segue cronologicamente. Mas hoje, folheando o atual, estava vendo como não existe arrependimentos no mundo do uso da papelaria colocada em ação, e como eu deveria aplicar isso em outros contextos -- tanto outros contextos de caderno (como sketchbooks) como outros contextos de vida em geral.

Retomando o histórico -- eu sempre utilizei um caderno geral de apoio, de forma mais ou menos dedicada... No entanto era uma coisa meio aleatória... Na minha cabeça de adolescente e jovem adulta, eu tentava fazer as coisas caber nas caixinhas certas: um caderno para cada matéria, uma agenda para compromissos, diários dedicados etc... Essas tentativas sempre tiveram resultados pífios em organização -- cadernos desatualizados, agendas que não eram atualizadas depois de fevereiro/março e diários que duram 04 anos ou mais, pq nem sempre a gente lembra de escrever.

No final do colégio, eu fiz uma experiência que, para o meu método de me organizar funcionou completamente bem -- aboli a tentativa de cadernos por matérias, de fichários com divisórias e comecei a usar um caderno grande, cronologicamente preenchido. Olhando em retrospectiva dá até uma certa vergonha do quão nerd eu era (era?) pelo nível de peso na consciência de estar fazendo "tudo errado" -- mesmo que na prática o método estivesse funcionando muito bem.

Alguns anos depois eu fui trabalhar em uma empresa onde manter um caderno com as coisas do dia a dia era praticamente uma obrigação, então isso só reforçou a prática -- embora eu nunca tenha pensado, deliberadamente, em como isso afetava a minha produtividade, organizava minhas ideias e tudo o mais...

Então, há uns 6 anos atrás, quando eu me dei conta que estava grávida, comecei a utilizar um caderninho da Daiso Japan, num formato bem legal, para organizar de consultas médicas a preparação e compras -- e de lá eu não parei mais... São seis anos com sempre um "amigo pega tudo" me ajudando a organizar a vida -- e se ela não está nas melhores das organizações, a culpa não é deles...

"Ok, ok Priscilla... Tudo muito interessante (ou não) mas... Qual a novidade sobre tudo isso?"

Pra começar, depois de utilizar cadernos da Daiso (de 6,90 cada) por alguns anos, eu acabei tendo coragem de utilizar cadernos da Pombo Lediberg (14,90) e da Miniso (19,90) -- o aumento dos valores do cadernos não foi aleatório -- mesmo contendo coisas como listas de tarefas domésticas ou listas de compra do supermercado, esses cadernos ficam comigo por pelo menos 4 meses -- e precisam ser resistentes o suficiente para sobreviverem a todo tipo de situação e transporte... Então a escolha de uma caderno mais caro e melhor a cada vez foi natural... Mas atualmente eu chutei o pau da barraca....

Estou usando um caderno Moleskine de uma coleção exclusiva que embora eu tenha pago 12 dólares em uma época de dólar a menos de 3 reais, atualmente está mais de 120 reais para comprar onde ainda existe... Ele já tinha começado a ser usado como diário há alguns anos e ficado numa prateleira... A tensão de "estragar" não permitia usar... Mas como agora eu estou mais ativa com os cadernos, não tive pudores -- lacrei as páginas já usadas com durex, e comecei o caderno como esse meu BuJo específico dalí pra frente... Já estou com ele há cinco meses, e acho que ele ainda dura mais uns 3...


"Agora tenho certeza... Não entendi nada sobre esse post..."

Calma, calma amiguinho -- é simples, eu só precisava contextualizar um pouco. O caso do caderno, como qualquer coisa da vida é: é difícil se arrepender do que foi feito na melhor das nossas capacidades... O arrependimento fica reservado para aquilo que poderia ter sido, e não foi...Esse caderno ficou sentado na estante durante anos pq era "precioso" demais para algo mundano... Agora que ele foi para o ápice das coisas mundanas, me dá uma alegria tremenda olhar as páginas preenchidas, por mais toscas que sejam... Olhando esses cadernos, eu tenho uma documentação tão rica da minha vida, algo que eu jamais teria conseguido se eu intencionalmente tivesse tentado documentá-la.

É a mesma coisa com meus sketchbooks, embora eu ignore na maior parte das vezes -- por mais toscos que sejam os rabiscos, é sempre muito gostoso rever o que foi feito... É uma sensação muito, mas muito diferente, da sensação de olhar as pilhas de sketchbooks brancos que esperam uma habilidade perfeita para serem gastas.

Os copos de cristais...

Minha mãe conta uma história, daquelas que correm por aí num misto de lenda urbana e sabedoria popular, sobre "copos de cristal". Sobre uma mulher que guardava seus copos de cristal como um tesouro.... Guardava para usar em um dia de festa, e nem assim os usava... Então ela morreu, o marido casou de novo e... a mulher nova colocou os copos para bater, e acabou quebrando todos rapidamente (tenho certeza que essa história tem um imenso número de variações, mas o espírito é esse).

Quantas coisas a gente guarda, esperando o momento perfeito, o dia perfeito, a situação perfeita -- e acaba não usando? Quantas coisas a gente espera para fazer ou vivenciar o dia que tiver a quantidade de dinheiro necessária, o peso necessário, ou o quer que seja? Quantas coisas a gente espera que sejam "perfeitas" para serem vividas, ignorando que se a gente olha pra trás, os arrependimentos estão quase sempre atreladas as coisas não vividas, não feitas -- ou que demoramos demais para fazer e perdemos o trem da "melhor tentativa possível".  Por que nos recusamos a ser simplesmente... Perfeitamente imperfeitos?

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