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Eterno Retorno

Existem fetiches muito estranhos. O meu, desconhecido da grande maioria, talvez seja o mais traiçoeiro e prejudicial: voltar do começo e fazer "direito".

Já perdi a conta do número de encruzilhadas nas quais estive, mantendo a ilusão de que "se ao menos eu pudesse voltar, e fazer direito", as coisas não estariam como estão. E isso vai de habilidades de trabalho que eu lamento improvisar até as coisas mais cotidianas. Por exemplo: será que se eu tivesse feito todos os tutoriais de revistas que eu comprei e não li, se tivesse estudado os livros certos ou feito o curso X com extra zelo eu estaria agora lutando mensalmente para chegar ao mês seguinte? Será que eu tivesse aproveitado melhor a disposição de minha mãe e de minha vó tentando me ensinar como cuidar direito da casa quando tive chance eu não seria uma adulta um pouco mais funcional?

Parece que o passado guarda o segredo de tudo que poderia ser melhor hoje e não é. Se pudesse, então, ser combinado com a lucidez de hoje (já que o termo "sabedoria" seria um exagero perigoso), que fórmula mágica de alegria e sucesso eu não teria, não é mesmo?

Mas eu sei, profundamente, que é tudo ilusão. Como eu sei? Porque alguém que acreditasse realmente nisso, teria acordado motivada com o dia a frente, sabendo que hoje também é o inicio de algo que irá se desenrolar no futuro. Se eu acreditasse realmente nisso, não ficaria perdendo o tempo chorando as oportunidade perdidas porque estaria muito entretida construindo meu amanhã.

A verdade é que o presente e o dia de hoje são pequenos demais quando nos falta humildade. É fácil olhar para dez, vinte anos atrás e, ver como os pequenos esforços diligentes do passado poderiam ter acumulado em algo "grandioso". Difícil é olhar para as dez páginas lidas de hoje, o dinheiro poupado, o respeito a dieta saudável e acreditar na diferença que isso terá no futuro.

Queremos ser grandes, intensos, plenos -- mas nós desiludimos com a falta de glamour, reconhecimento e incentivo intrínsecos ao caminho.  Quero eternamente retornar, porque tanto desrespeito ao presente me fizeram não saber ao certo como foi que eu cheguei aqui -- e, embora seja muito doloroso admitir: se esse não é o presente que eu queria, é exatamente aquele que eu merecia. Isso dói.

***

Notas de sincronicidade: Logo depois de ver esses textos, eu acabei assistindo esse vídeo no YouTube. Disse exatamente aquilo que eu queria dizer.

If You Can’t Change Your Emotions Do This Instead | Hal Elrod on Impact Theory
https://youtu.be/g9yg5cDagJ0


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