sábado, 1 de dezembro de 2018

Imperfeitamente perfeitos...

Photo by Simson Petrol on Unsplash
Não é a primeira vez -- e provavelmente não será a última -- que eu falo do meu amor por cadernos... Sobre a minha necessidade de ter sempre um "escolhido" que atua como um misto de Bullet Journal, Common Place Book, Diário e Caderno de Estudos em um caderninho só, que segue cronologicamente. Mas hoje, folheando o atual, estava vendo como não existe arrependimentos no mundo do uso da papelaria colocada em ação, e como eu deveria aplicar isso em outros contextos -- tanto outros contextos de caderno (como sketchbooks) como outros contextos de vida em geral.

Retomando o histórico -- eu sempre utilizei um caderno geral de apoio, de forma mais ou menos dedicada... No entanto era uma coisa meio aleatória... Na minha cabeça de adolescente e jovem adulta, eu tentava fazer as coisas caber nas caixinhas certas: um caderno para cada matéria, uma agenda para compromissos, diários dedicados etc... Essas tentativas sempre tiveram resultados pífios em organização -- cadernos desatualizados, agendas que não eram atualizadas depois de fevereiro/março e diários que duram 04 anos ou mais, pq nem sempre a gente lembra de escrever.

No final do colégio, eu fiz uma experiência que, para o meu método de me organizar funcionou completamente bem -- aboli a tentativa de cadernos por matérias, de fichários com divisórias e comecei a usar um caderno grande, cronologicamente preenchido. Olhando em retrospectiva dá até uma certa vergonha do quão nerd eu era (era?) pelo nível de peso na consciência de estar fazendo "tudo errado" -- mesmo que na prática o método estivesse funcionando muito bem.

Alguns anos depois eu fui trabalhar em uma empresa onde manter um caderno com as coisas do dia a dia era praticamente uma obrigação, então isso só reforçou a prática -- embora eu nunca tenha pensado, deliberadamente, em como isso afetava a minha produtividade, organizava minhas ideias e tudo o mais...

Então, há uns 6 anos atrás, quando eu me dei conta que estava grávida, comecei a utilizar um caderninho da Daiso Japan, num formato bem legal, para organizar de consultas médicas a preparação e compras -- e de lá eu não parei mais... São seis anos com sempre um "amigo pega tudo" me ajudando a organizar a vida -- e se ela não está nas melhores das organizações, a culpa não é deles...

"Ok, ok Priscilla... Tudo muito interessante (ou não) mas... Qual a novidade sobre tudo isso?"

Pra começar, depois de utilizar cadernos da Daiso (de 6,90 cada) por alguns anos, eu acabei tendo coragem de utilizar cadernos da Pombo Lediberg (14,90) e da Miniso (19,90) -- o aumento dos valores do cadernos não foi aleatório -- mesmo contendo coisas como listas de tarefas domésticas ou listas de compra do supermercado, esses cadernos ficam comigo por pelo menos 4 meses -- e precisam ser resistentes o suficiente para sobreviverem a todo tipo de situação e transporte... Então a escolha de uma caderno mais caro e melhor a cada vez foi natural... Mas atualmente eu chutei o pau da barraca....

Estou usando um caderno Moleskine de uma coleção exclusiva que embora eu tenha pago 12 dólares em uma época de dólar a menos de 3 reais, atualmente está mais de 120 reais para comprar onde ainda existe... Ele já tinha começado a ser usado como diário há alguns anos e ficado numa prateleira... A tensão de "estragar" não permitia usar... Mas como agora eu estou mais ativa com os cadernos, não tive pudores -- lacrei as páginas já usadas com durex, e comecei o caderno como esse meu BuJo específico dalí pra frente... Já estou com ele há cinco meses, e acho que ele ainda dura mais uns 3...


"Agora tenho certeza... Não entendi nada sobre esse post..."

Calma, calma amiguinho -- é simples, eu só precisava contextualizar um pouco. O caso do caderno, como qualquer coisa da vida é: é difícil se arrepender do que foi feito na melhor das nossas capacidades... O arrependimento fica reservado para aquilo que poderia ter sido, e não foi...Esse caderno ficou sentado na estante durante anos pq era "precioso" demais para algo mundano... Agora que ele foi para o ápice das coisas mundanas, me dá uma alegria tremenda olhar as páginas preenchidas, por mais toscas que sejam... Olhando esses cadernos, eu tenho uma documentação tão rica da minha vida, algo que eu jamais teria conseguido se eu intencionalmente tivesse tentado documentá-la.

É a mesma coisa com meus sketchbooks, embora eu ignore na maior parte das vezes -- por mais toscos que sejam os rabiscos, é sempre muito gostoso rever o que foi feito... É uma sensação muito, mas muito diferente, da sensação de olhar as pilhas de sketchbooks brancos que esperam uma habilidade perfeita para serem gastas.

Os copos de cristais...

Minha mãe conta uma história, daquelas que correm por aí num misto de lenda urbana e sabedoria popular, sobre "copos de cristal". Sobre uma mulher que guardava seus copos de cristal como um tesouro.... Guardava para usar em um dia de festa, e nem assim os usava... Então ela morreu, o marido casou de novo e... a mulher nova colocou os copos para bater, e acabou quebrando todos rapidamente (tenho certeza que essa história tem um imenso número de variações, mas o espírito é esse).

Quantas coisas a gente guarda, esperando o momento perfeito, o dia perfeito, a situação perfeita -- e acaba não usando? Quantas coisas a gente espera para fazer ou vivenciar o dia que tiver a quantidade de dinheiro necessária, o peso necessário, ou o quer que seja? Quantas coisas a gente espera que sejam "perfeitas" para serem vividas, ignorando que se a gente olha pra trás, os arrependimentos estão quase sempre atreladas as coisas não vividas, não feitas -- ou que demoramos demais para fazer e perdemos o trem da "melhor tentativa possível".  Por que nos recusamos a ser simplesmente... Perfeitamente imperfeitos?

quinta-feira, 2 de agosto de 2018

Ninguém está a caminho...

Photo by Anthony Tran on Unsplash

O título dessa postagem também poderia ser "Somebody Save Me!!!" -- mas iria me fazer lembrar do super irritante tema de Smallville, então deixa quieto. Recentemente uma das minhas "ídolas" (rs), Mel Robbins, postou esse vídeo tapa na cara sobre a necessidade de nos tornarmos nossos próprios pais na vida adulta. Não estou dizendo ser como nossos país exatamente como eu me sinto quando um "Tá pensando que eu sou a dona da Eletropaulo?" sai da minha boca direto para os ouvidos da minha filha...

Aqui, como sempre, o buraco é um pouco mais embaixo -- ela fala sobre a questão de que nós nunca teremos vontade de fazer as coisas que precisam ser feitas. Não porque sejamos fracos, preguiçosos ou procrastinadores -- mas porque sempre vamos precisar de um empurrãozinho. A diferença é que durante a infância e adolescência esse "empurrãozinho" vinha de instâncias superiores. Depois de adulto, estamos por nossa conta e risco. Ou seja, quem consegue fazer mais não tem nenhum super poder especial -- apenas um "pai ou mãe interno" mais ativo e atuante.

E Mon Dieu, como eu preciso desse tapa na cara.. Estou pensando até em colocar o vídeo a seguir em um despertador em vídeo (deveria existir um) pra já acordar assistindo isso. Quem sabe assim eu paro de ficar esperando o príncipe salvador, em cima do cavalo branco, na forma de um curso, de um livro, de em amigo, de uma desculpa... Ninguém está a caminho, é melhor eu mesma começar a impor o ritmo.

The hard truth about making your dreams come true | Mel Robbins Live
https://youtu.be/JoQEY2sIMTg

quarta-feira, 1 de agosto de 2018

No negócio de fazer Deus dar risada...

Photo by Ben White on Unsplash
Sobre porque uma decisão pesa mais do que uma tonelada de planejamentos.

Segundo o ditado: "O homem planeja e Deus ri". Minha vocação, portanto, deve ser o picadeiro -- porque eu adoro planejar, muito mais do que executar (e provavelmente é daí que vem boa parte das risadas de Deus). Como eu não sou uma pessoa muito "rápida" para as coisas cotidianas, só foi preciso 37 anos para que eu percebesse que o meu foco talvez estivesse na coisa errada... Afinal, por que tanto planejamento nem sempre dá certo? O que foi diferente nas vezes em que o planejamento funcionou e não foi um simples exercício de criação de metas e etapas?


A palavra correta é "INTENSÃO".

Não, eu não fiquei analfabeta de repente -- a palavra que eu quero usar é mesmo esse intensão com "s", conforme visto aqui. A intenção com "ç", que é a aquela que significa "um propósito, um plano, um desejo, uma ideia, uma aspiração" sempre está ali quando a gente planeja, por melhor ou pior que o plano seja. Mas a intensão com "s", que "se refere a um aumento de tensão, de força, de energia"... Bem, essa quase nunca nem sempre está.

Essa diferença de intensidade é o que distingue uma "intenção" de uma "decisão" -- se eu tenho uma intenção, faço um planejamento. Se o planejamento é frustrado, na maior parte das vezes, assumo que a intenção não podia mesmo ser alcançada... Afinal, como um planejamento tão bem feito poderia ter dado errado? Realmente não era pra ser! Por outro lado, quando eu tenho uma decisão, o planejamento se torna uma estruturação de possibilidades, mas ele não é senhor... Planejou e não deu certo? Plano B. Não deu certo de novo? Plano C... E assim vai, porque a decisão é inegociável e afinal de contas o alfabeto tem 26 letras. Retornamos à prancheta com a mesma disposição do Coiote em pegar o Papa-léguas.

Sorvetes, testas e sua mútua atração

Fazendo uma retrospectiva de vida, alguns sorvetes acertam em cheio a testa! Quantas vezes eu abracei um "planejamento" ao invés de abraçar uma "decisão" e acabei frustrada com o resultado? Diversas vezes... É o que eu hoje chamo de "subir na esteira dos Jetsons" (link explicativo para qualquer um com menos de 30): você abraça um caminho, um processo, uma sequencia de etapas (mais ou menos testadas e comprovadas) e espera que o resultado automático seja a conquista daquela intenção inicial.

Quanta gente por aí abraça uma faculdade em busca de um bom emprego? Uma dieta específica em busca do peso ideal? Um relacionamento padrãozinho em busca de felicidade e realização? Em todos os casos, estamos falando de gente que abraçou planejamentos e não decisões. Se a minha decisão é perder 20 quilos, eu faço "reeducação alimentar" (um planejamento) e se não funciona, eu faço "low carb" (outro planejamento). A "low carb" não funcionou? Faço "dieta mediterrânea" (mais outro planejamento) e assim por diante -- o plano não é sagrado! Sagrado deveria ser o nosso compromisso com as nossas decisões.


Os fins não justificam os meios... Mas os meios se adaptam aos fins.

Muito provavelmente você cresceu escutando algo nas linhas do "Não seja teimoso meu filho". Eu diria diferente; eu diria "Seja teimoso! SEJA TEIMOSO ATÉ OS OSSOS". Primeiro porque não sou sua mãe (então digamos que a minha responsabilidade pelo seu bom comportamento é limitada), segundo porque é muito, mas MUITO difícil mesmo estabelecer uma linha clara entre o que é persistência e o que é teimosia. Pessoalmente eu percebo que as pessoas chamam de persistência a insistência em algo que elas admiram, e teimosia a insistência em algo que elas não acham possível ou que elas preferiam que nenhuma pessoa além delas insistisse... Então sabe como é, critérios bem subjetivos.

Hoje em dia quando eu comparo "resultados alcançados" e "intenções frustradas" eu percebo que no primeiro caso há uma combinação de um "desejo ardente" (quem sabe qualquer hora eu consiga uma definição menos religiosa/soft pornô) e uma ação intensa, muitas vezes adaptada diversas vezes ao longo do caminho. Já no segundo caso, o das "intenções frustradas", o desejo muitas vezes existe mas não é aquele caso de vida ou morte -- e até pode ser o caso de uma coisa que eu "acho que deveria querer", mas não QUERO mesmo sabe? Como aquelas "decisões sociais" que todos se veem pautados a cumprir: um emprego tradicional, casar, ter filhos, comprar casa, carro etc. São coisas em que muitas vezes o nosso contexto social martela fortemente, mas que não há um desejo interior real, intenso, orientado nessa direção.

Moral da História: não é uma questão de "Como" mas de "O quê?" e "Por quê?"

Visite posts, fóruns, redes sociais. Você vai ver uma inundação de "métodos e planejamentos" -- Como Elon Musk faz para ser tão produtivo? Quais os livros Bill Gates leu? Como Fulana perdeu 30 quilos em 15 dias? Todos tão úteis quanto você querer ter o mesmo sucesso de Steve Jobs, por exemplo, e começar a andar de camisa gola rolê preta pelo resto da sua vida. O que você quer? Por que você quer? Está disposto a ser criativo nos métodos de chegar lá? Desistir dos caminhos já trilhados por outras pessoas e adaptar às suas circunstâncias? Aceitar que a sua responsabilidade é decidir "o quê" e não determinar "como"? Vou ser sincera: no meu caso é um trabalho em desenvolvimento... Só espero concluí-lo antes dos próximos 37 anos!

E pra animar o seu final de leitura...

U2 - Desire - https://youtu.be/d9TiEWVlTKg


segunda-feira, 30 de julho de 2018

A Metafísica do Passar Roupa

Fonte: Pixabay
Nada melhor para fazer você abrir mão de algo, do que entender que tem que assumir TODA a responsabilidade associada a isso.

Minha mãe odeia passar roupa... Sempre odiou, continua odiando e vai morrer amaldiçoando o criador do ferro de passar roupa  -- que ela especula ser homem, é claro! E está certa, como confirma a Wikipedia. Minha relação com a tarefa, no geral, nunca foi tão cheia de tensões. Das coisas de casa, a menos que esteja muito calor, acho que é uma das coisas menos irritantes: Vc está lidando com roupa limpinha, cheirosa, deixando ainda mais bonita... Ganha de dez de qualquer pia de louça suja, banheiro e afins não é mesmo?

Isso não significa que você vai me ver correndo por aí com um ferro de passar roupa. Até porque é quente, perigoso e necessitaria de uma extensão -- ou seja, totalmente não recomendado (não tentem fazer isso em casa crianças). E como 99% dos meus hábitos e rotinas de casa giram em torno da minha capacidade de vencer a preguiça, assumo que eu não dedico tanto tempo assim ao ferro. Costumo secar roupas no cabide para já secarem praticamente perfeitas (ainda mais para quem trabalha em Home Office), meu marido é responsável por passar as dele... Fico basicamente com a responsabilidade de passar as da filha, e as roupas de sair -- com o péssimo hábito de só fazer isso quando necessário, ao invés de centralizar isso em um dia/horário.

Mas e aí? Porque eu comecei a falar de passar roupa afinal? 

Atualmente, estou lendo o livro "Os Segredos do Guarda-roupa Europeu" da Anuschka Rees. A ideia por trás da leitura é ambiciosa: ajudar no descarte das roupas que eu não uso (dado que sempre estou variando entre as mesmas 20 peças), tentar montar algum estilo pessoal mais estruturado (ao invés de juntar peças que eu acho legal, mas que não combinam entre si). Estou a uns 60% da leitura, e já vi que há bastante trabalho a ser feito. Tanto, que estou me dedicando primeiro a leitura, depois vou repassar o livro em busca das ações necessárias -- e já sugerindo: editores de livros focados em como fazer alguma coisa: incluam checklists, quadro de atividades, ou algo assim para ajudar as pessoas com "Agora eu faço o que? O que eu faço primeiro?" em leituras desse tipo.

Foi aí que eu percebi a importância "metafísica" de passar roupa. Mais do que deixar a roupa socialmente aceitável, ao passar roupa você acaba se encontrando com seu guarda-roupa, com um pouco mais de cuidado -- percebe uma ou outra costura que não está ok, uma ou outra peça que está mais desgastada. Mas mais do que isso: é fácil ter um guarda-roupa abarrotado de coisas quando você não precisa, regularmente, dar essa atenção toda a todas as peças. É desgastante passar 30, 40 peças seguidas. Em um ponto ou outro, você começa a se questionar se deseja mesmo investir tanto tempo da sua vida na manutenção de determinadas peças. Ou será que vale mesmo a pena ficar de pé, gastando energia, com aquela camisa que amassa só de olhar, e que você nem gosta tanto assim pra começo de conversa?

E é por isso também que quem ter cuidados domiciliares terceirizados (familiares, diaristas, empregadas ou lavanderias, por exemplo) acabam mantendo um guarda-roupa muito maior, sem sentir esse peso. Nesse caso, você não está regularmente em contato com o "peso" de manutenção daquele abarrotado de coisas, porque o trabalho pesado está com outro. Pra você é só abrir o guarda-roupa, escolher uma peça, experimentar, não gostar e jogar de volta no monte.

Resgatando costumes

Ainda acho ridículo que seja assim, mas não deixa de ser verdade: a minha grande luta da vida adulta é aprender a lidar com o cotidiano. Aprender a executar tarefas -- ou melhor, quando executá-las, com que regularidade e de fato executá-las  -- é de longe mais difícil para mim do que qualquer problema cabeludo em EaD. E conforme eu vou retomando, e descobrindo como fazer essas coisas por mim mesma (descolando da ideia de que o jeito que a minha mãe fazia era o "certo"), vou notando os benefícios paralelos: disciplina, limites, responsabilidade.

E como eu sou uma das pessoas que adora as coisas limpas e arrumadas, mas que odeia investir qualquer tempo e esforço para que isso aconteça, fica clara a necessidade de voltar a passar roupa, regulamente, com cuidado, dia e horário se eu quiser de fato "desapegar" do volume de coisas que eu tenho em mente (pelo menos uns 50%). Somente com o ferro em mãos, tendo que encarar alguns minutos, peça por peça, é que o meu cérebro apegado vai chegar a conclusão que "Eh, talvez eu não goste mais tanto assim dessa blusinha que eu já tenho há uns 10 anos e que saiu da categoria 'aceitável pra pijama' há alguns anos.

terça-feira, 17 de julho de 2018

"Ando só, pois só eu sei, pra onde ir, por onde andei..."

Estou há meses segurando postagem por aqui... Isso é um blog pessoal, mas eu havia feito votos, há muito tempo atrás, de não ficar sangrando em público -- sabe como é, costuma chamar atenção dos tubarões, rs. Mas por outro lado, eu esvaziei tanto esse blog nos últimos anos que aqui é quase como escrever no meu diário pessoal. "Então porque 'indivídua' você não deixa pra desabafar por lá?". É uma boa questão! E para ela eu só tenho uma resposta que beira o metafísico: Quando escrevo no meu diário, parece que eu só elaborei a dor -- mas ela continua por lá. Por aqui, eu jogo ao vento e sigo com a vida.

Se por acaso você deu de cair por aqui agora, não sai correndo -- ainda não -- eu prometo que essas postagens em carne viva (mas muitas vezes enigmáticas para quem está de fora) não serão a regra. Mas hoje eu precisava de um lugar para reclamar sobre como "ser adulto é difícil" -- especialmente adulto, mãe, profissional autônoma/freelancer/empreendedora individual, dona de casa, esposa. Sei que com 37 anos, quase 38, eu já deveria ter ganho alguma experiência e alguma tração mas... Não.

E eu me sinto só... Incrivelmente e irremediavelmente só... Especialmente pq vivemos em um mundo (e eu me incluo nisso também, não estou tirando o meu da reta) que é ótimo em falar... Mas péssimo em escutar. Compartilhar suas angustias é inviável... Especialmente quando você quer compartilhar e receber alguma compaixão, que alguém lhe diga "Eu sei que está foda, eu sei que é foda, mas tudo vai ficar bem, você vai ver". Se você fala com alguém de outra geração, está reclamando de mais "pq imagine no meu tempo... " e lá vai a sua angustia relativizada. Se compartilha com seu companheiro -- por melhor que ele seja, e é -- o que vem são sugestões do que você "poderia", "deveria" ou promessas de um futuro melhor.

Poderia citar diversos exemplos, mas a questão essencial é: você não é ouvida, suas angústias não são validadas, e realmente parece que ninguém é capaz de lhe entender ou lhe escutar. Não existe um "Fudustê"; meu termo para "O que existe de fudido em mim reconhece o que existe de fudido em você". Parece que você é a única seguindo pela vida, se arrastando aos pedaços, enquanto os outros são perfeitas bonecas de porcelana que não sabem ou simplesmente não querem saber que algo não está correto. Parece que se alguém admitir "É garota, estamos todos ferrados e tem dias que eu nem sei como levantamos da cama", a polícia do "Está tudo ok, está tudo normal" vai bater na porta e dizer que você não é um bom cidadão.

Sinto que estou com pratos demais no ar e que atualmente, eu não tenho liberdade para ser responsável por eles... Sinto que aquele "só você pode mudar sua vida" nem mais se aplica, pois existem tantas responsabilidades competindo entre si nas quais eu estou irremediavelmente só, que não... Eu não posso mudar minha vida. E eu simplesmente não consigo aceitar, sem me debater fortemente, que talvez muitas das coisas que eu quero, simplesmente não são possíveis agora -- e eu nem consigo teorizar se algum dia serão. É a angustia de olhar para trás, e ver que suas expectativas não viraram realidade. Olhar para frente, e não se ver capaz de traçar planos. Olhar para o presente e ver tanta coisa igualmente importante a ser feita, e não ter lastro algum para escolher entre elas. Tudo isso somado a certeza de que não há para onde correr, ou com quem contar... Paralisia, solidão e angustia definem o momento.

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Atrás de toda acumulação só há duas coisas: medo e escassez.

Photo by Savs on Unsplash
Passei boa parte da terça-feira de carnaval arrumando uma prateleira ao lado do meu cantinho de trabalho. Era a última prateleira que faltava dar uma geral (dessa estante, tem mais duas na fila). A arrumação era fundamental: cada vez que procurava alguma coisa por ali — ou simplesmente olhava em sua direção — algo sempre caia na minha cabeça… Ou no computador… Ou mais temível e provocador de palavrões, no pé. Mais de uma vez eu tive que segurar uma reação em cadeia de livros, cadernos e grampeadores despencando. Era como trabalhar ao lado de uma área com potencial risco de avalanche.

Rearrumar áreas entulhadas que você não visita há tempos sempre nos traz doces recordações. Reencontrei cadernos antigos que ainda esperavam atribuição de funções e uso. Reencontrei livros que eu estava tão animada pra ler… Anos atrás, mas ainda assim interessantes. E é claro, encontrei livros que só alguns momentos fora de si explicam (como um “Contabilidade ao alcance de todos”, que deve ter me pego em um momento de inspiração para controlar, com propriedade, do operacional da antiga sociedade).

Fiz as contas. Só nessa prateleira, depois de organizada, existem 108 livros, dos quais eu já li aproximadamente 30. Mesmo com a minha meta de leitura atual para 2018 sendo de 72 livros, nem em um ano eu conseguiria dar conta só dessa prateleira. Isso significa que você, assim como eu, deve estar se perguntando: pra que tanto?

Não “me traz alegria”.

Ter tanto de algo que você gosta — no meu caso, livros; cadernos, sketchbooks e papelaria em geral — deveria ser algo animador… Saber que independente do que aconteça, se eu não puder comprar mais nenhum livro a partir de hoje, ainda teria anos de leitura estimulante pela frente antes que isso me afetasse deveria ser motivo suficiente para estar contente com a visão de tantos livros e estar satisfeita com eles. Mas aí está o pulo do gato: por que acumular livros pensando “caso algo aconteça e eu não possa comprar mais nenhum livro?”.

Pensando bem, deixar que isso oriente  suas ações é uma tristeza. Mesmo que eu estivesse lendo como uma máquina de leitura, 2 livros por semana — ou seja, 10 livros por mês — existe algo chamado “biblioteca pública” (não recebem o apoio que merecem, é claro, mas ainda bravamente resistem). Existe outra coisa chamada SEBO, onde por 50,00 reais é possível sair com 10 bons livros, fácil. Existe algo chamado “Kindle Unlimited”, onde por R$ 19,90 mensais você aluga até 10 bons livros por vez (se ler mais, é só devolver e baixar mais)… Então, sérião, por que eu estou entulhando a casa para me precaver de dias tristes e chuvosos onde eu não possa nem caminhar até a biblioteca ou gastar R$ 20,00 por mês em livros? Se um dia eu tiver em um perrengue desses será que é de livros mesmo o que eu mais sentirei falta? Será que faz investir em preocupação desse jeito?
“Tenho notado que a preocupação é como rezar para o que você não quer que aconteça.”
Robert Downey, Jr.

Nem só de livros viverá a mulher…

Embora isso seja um tema que eu trate mais no meu blog sobre desenho, o Sketchblock, é algo que se encaixa aqui também — a mesma situação se aplica a sketchbooks e cadernos em geral. Eu utilizo um caderno a cada 04 meses na minha combinação de Commonplace Book e Bullet Journal. Ou seja, eu gasto uma média de 03 cadernos por ano nisso… Precisava de uma fila de 30 pra me sentir segura?

Recentemente eu fui na Miniso, uma concorrente da Daiso que chegou ao Brasil. Fiquei apaixonada por alguns cadernos que eles tem por um preço muito, mas muito atrativo mesmo. Uma linda versão do modelo “Moleskine” pautado, com 120 folhas e capa acetinada em tons pastéis por R$ 18,00 — algo muito vantajoso já que o Moleskine original pode sair de R$ 60,00 a 120,00 (diferença entre importar e comprar por aqui) e uma versão semelhante da Pombo Lediberg pode custar R$ 49,00 (na Kalunga, por exemplo). Então eu comprei 2 para fazer diário… Embora ainda falte umas 40 folhas para o meu diário atual terminar. E eu já tivesse uma fila de mais 03 Moleskines para substituí-lo. Tinha necessidade? Claro que não… Mas podia acabar uma oferta vantajosa desse jeito — e isso ainda é o que me dá formigamentos de voltar lá e comprar mais duas cores… Afinal quanto tempo vai demorar pro pessoal descobrir que ele vale muito mais do que estão cobrando? E se acabar?

E se não for suficiente?

Nem precisa dizer que eu sou uma acumuladora. Não dessas que guarda jornais velhos e caixas de pizza vazias, mas das que estão sofrendo com compulsões por compras, justificadas  por noções de “só para garantir…”. Demorou para eu perceber que isso não é motivado pelo meu amor por papelaria ou livros. Isso é motivado por medo e escassez. Medo de não ter, medo de não ser suficiente, medo de que no futuro, quando eu realmente for precisar daquilo, não ter, ou não poder comprar. Eu poderia analisar ao infinito momentos na infância e adolescência onde estar na ponta do “não tenho e não posso” foram experiências fortes, nesses e em outros ítens, mas não é necessário — principalmente porque eu não sou mais criança, nem adolescente. Eu sou uma mulher adulta e capaz, que não deveria estar entulhando a casa de reservas “pro inverno” e sim investindo nas plantações. Faz sentido?

Mentalidade de Escassez.

A coisa mais interessante sobre acumulação é que você faz para se sentir seguro, mas não funciona assim. Saber que eu tenho materiais e sketchbooks, por exemplo, para desenhar por 10 anos sem ter que gastar um tostão não me dá a segurança de gastá-los. Pelo contrário. Algo dentro de você sempre diz: “E se forem 11 anos?”. A mentalidade de escassez acaba funcionando como um buraco negro onde tudo aquilo que você joga nunca é suficiente. Você está lá, investindo seu presente na expectativa de estar segura em um dia chuvoso — que pode nunca chegar — enquanto vive o presente tropeçando em coisas que não estão sendo utilizadas na sua potencialidade, acumulando pó, envelhecendo, sem valor para ninguém.

Por uma questão de lógica, faria muito mais sentido deixar de gastar R$ 30,00 em um livro hoje e investi-lo em algum lugar para que no futuro, havendo a necessidade e o momento de efetivamente ler você simplesmente comprasse o livro não é mesmo? Por que empatar agora um recurso que não será utilizado? Mas lógica não é o forte do acumulador — forte é a noção de que se você não comprar aquilo AGORA talvez nunca mais consiga, não naquele preço… E mais uma vez, como disse anteriormente em outro post, aquela “possibilidade” encerrada no ítem (aprender algo novo, ser uma nova pessoa… Alguém que põe em prática aquele determinado conhecimento) não ser realize.

Escassez versus Prosperidade.

No momento, para sair de uma mentalidade de escassez, seria suficiente ter apenas o estritamente necessário — e saber que, caso essa necessidade se expandisse, eu seria capaz de simplesmente ter à disposição os recursos necessários para resolver o assunto. Escassez, além de medo, é falta de fé — na generosidade do Universo (dentro da visão divina ou não que você decida adotar), na sua capacidade de conquista, na sua flexibilidade e adaptação. Estar preparado para um dia chuvoso pode realmente ser importante (planos de saúde, aposentadorias e investimentos vivem disso)… Mas não esquecer que é sol lá fora e que sua maior preocupação no momento deveria ser viver plenamente, também é.

sábado, 27 de janeiro de 2018

Eu Deveria Estar Limpando…

Pensamentos sobre acumulo, organização, limpeza… E como eles podem se transformar em uma pedra no sapato dos seus sonhos.
Você já leu “A Mágica da Arrumação”? Eu li, como eu já disse há pouco tempo atrás. Há aproximadamente 7 anos, desde quando eu passei a viver com o meu querido marido/namorado/pai da minha filha, eu tenho lido muitos livros sobre organização, produtividade, limpeza doméstica. Antes disso eu também lia muito sobre produtividade — mas a minha ideia principal era “Como fazer mais coisas?”. Depois de começar a viver a dois (e agora 3) a pergunta principal se tornou “Como fazer o mínimo pra não morrer soterrada na bagunça e vivendo de ifood?’. E claro, ler a respeito desse tipo de coisa é sempre muito mais fácil do que realmente botar a mão na massa (e de preferência de luvinha, que eu tenho nojinho de sujeira, rs).

Oportunidade e Ameaça.

O livro da Marie Kondo me vem a cabeça porque ela tem uma posição diametralmente oposta em relação ao que a maioria das pessoas diz sobre organização (em especial sobre a parte de descarte): ao invés de fazer um pouco por dia, faça tudo de uma vez. Por setores ou temas, é claro, como ela sugere, mas tudo de uma vez — pois caso contrário você vai desanimar, ver uma pequena melhora, e começar a bagunçar tudo de novo.

Esse é o tipo de ideia que causa curto circuito no meu cérebro. Um lado de mim entende perfeitamente a necessidade de um comprometimento desse: fazer mudanças reais, fazer mudanças significativas. Porque eu me conheço e o “follow up” de tarefas recorrentes não é o meu forte. Uma vez que o desânimo ou outras prioridades tomam conta, eu vou deixando as coisas para trás e não faço mais absolutamente nada.  Por outro lado — e aqui que o curto circuito começa — isso casa perfeitamente com a minha tendência a procrastinação… Se fazer um pouco por dia não adianta, melhor não fazer nada… Ou melhor ainda: vamos adiar todo o processo para um dia que eu posso dedicar um dia inteiro — ou quem sabe — um final de semana inteiro a tarefa do descarte… Aí todo o resto que vem na sequência (limpeza e organização) poderão ser feitos de maneira prática e rápida.

Descarte, limpeza e organização não são a mesma coisa.

Parece óbvio dizer isso mas… Descarte, limpeza e organização não são a mesma coisa. Por muito tempo eu fiquei envolvida na dupla “Organização e Limpeza”, e não prestei atenção ao que era essencialmente óbvio: tem horas que não é possível organizar, é preciso descartar. Antes disso, eu sofria de “Caixite”, uma inflamação cerebral severa que faz você acreditar que todos os seus problemas de organização serão resolvidos com a compra e distribuição de todos os seus itens em caixas organizadoras. Isso é o que acontece com pessoas como eu que acreditam que todos os sonhos e impulsos que tem devem ser perseguidos imediatamente, com o mesmo nível de dedicação.  Teve vontade de tocar guitarra? Compre uma guitarra… Mas não esqueça de comprar o amplificador, o pedal, livros de instrução. O que? Agora está com vontade de fazer tricô? Já sabe: agulhas de todos os tamanhos, para todos os tipos de lã e é claro… Muitas lãs. Isso pode levar você, facilmente a dois locais: Caos e SERASA (acredite em mim, pois eu já cheguei aos dois).

Resumindo:
  • Descarte: se livrar daquilo que você tem em excesso, não quer mais ou não precisa (pode ser doando, vendendo ou simplesmente, dependendo do estado, jogar fora).
  • Organização: é o velho “cada coisa em seu lugar” — normalmente quando as coisas não tem um lugar específico, ou é porque precisam ser organizadas (e ter um lugar fixo atribuído) ou descartadas (ver tópico anterior).
  • Limpeza: atividade ROTINEIRA de manutenção dos ítens organizados e seus entornos.

Por que os acumuladores acumulam?

Se você já assistiu na TV a Cabo a qualquer episódio de “Acumulares” e não compreende como as pessoas chegaram aquela situação, eu lhe explico: pessoas com tendências acumuladoras como eu não juntam coisas… Elas juntam POSSIBILIDADES. E é por isso que é tão difícil descartar as coisas. Assumir que talvez não tenha sido uma boa ideia comprar uma guitarra, um amplificador, pedais etc., nem é a parte mais difícil.  Doar ou vender esses ítens e assumir que esse “pedacinho de possibilidade” da sua vida se encerra é. Uma vez que os itens estejam fora de casa, eu não sou mais a mulher que pode aprender a tocar guitarra assim que quiser… Eu sou a mulher que quis (passado) e não rolou (desistiu).


E então… Seu sonho é limpar?

Existe uma citação no rodapé desse blog que eu gosto muito: "That which you cannot give away, you do not possess. It possesses you" (Ivern Ball), algo como: “O você não pode dar, você não possui. Ele possui você”; ou seja, você pode pensar que tem muitas coisas que terão utilidade e serventia um dia mas, por enquanto, quem serve essas coisas é você, que re-empilha as coisas por aí, compra caixas, limpa, guarda, carrega em mudanças — e na grande maioria das vezes, sem nenhum proveito.  A natureza do item nem sequer importa. Não há diferença entre acumular sapatos, livros ou potes de sorvete: se você está guardando coisas que não está utilizando, elas não tem nenhuma serventia, porque as coisas se realizam em sua utilidade e não na sua possibilidade.

Eu, por exemplo, tenho mania da acumular livros. Uma pesquisa rápida me mostrou que em 2017 eu comprei 73 livros (entre livros físicos e ebooks). Como eu acompanho anualmente minha meta de leitura, posso lhe dizer em quem 2017 eu li 28 livros… E não, nem são 28 livros desses 73 (acho que nem metade foram livros comprados em 2017). Por que eu faço isso? Mais uma vez, porque livros representam POSSIBILIDADES. Eu compro livros de literatura, livros sobre (vamos rir) produtividade e organização, autodesenvolvimento, desenho e pintura. Cada livro que eu compro eu acredito que irá e trazer em valor acumulado de vida maior do que o valor pago… Mas o detalhe é: apenas se ele for lido. Caso contrário é apenas dinheiro que saiu da minha conta e deixou de somar pra uma viagem ou passeio legal, por exemplo — e agora está empilhado em um canto da casa esperando tempo e atenção.

E quando o final de semana chega, como hoje, e as cobranças mais recorrentes do trabalham cessam por um momento, será que eu aproveito para perseguir meus sonhos ou relaxar? Será que eu paro para desenhar, ler ou… Tentar tocar guitarra? Não. Porque a bagunça e o caos divergem minha atenção… Eu sinto que deveria estar descartando itens, organizando as coisas, fazendo limpeza para AÍ, quando tudo estiver em ordem poder fazer alguma coisa com paz e sossego. Não é louco demais? Correr para ganhar dinheiro, para comprar coisas, que vão ficar ocupando espaço até que você se canse? Até que um dia, no seu tempo livre, você tenha que se dedicar para separá-las, descartá-las e limpar a casa?

Acho que por definição eu jamais seria uma pessoa “minimalista”. Mas eu entendo o apelo. Queria chegar em dia como hoje, com a casa inteira arrumada, fazer comida e só ter uma loucinha pra lavar, colocar uma carga de roupa pra lavar e ter encerrado as atividades “pesadas” do dia, fazer um chá, sentar no meu sofá com um bom livro e ler a tarde toda… Depois deixar o livro, pegar meu sketchbook, alguns materiais de desenho e rabiscar um pouco.. Ao invés disso eu estou aqui pensando em como organizar tanto livro, onde guardo tantos sketchbooks (ou gastando neurônios em saber quantos seriam suficientes… Para um ano? Para a vida?). É difícil abrir mão de coisas que você adquiriu em troca de horas de vida (trabalhadas). Mas quando é a hora de cortar amarras e reclamar de volta apenas uma parte: a vida?

quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

Rotina, Eu Te Amo!!

Questionamento constante: por que eu tenho a impressão que conseguia produzir muito mais na vida durante a adolescência/início da idade adulta do que, digamos, nos últimos 10 anos!? Uma análise rápida e superficial diria: Obrigações. Uma análise mais profunda e precisa: Rotinas.

Eu sei, eu sei: A palavra “rotina” tem uma má reputação. O “cair na rotina” se tornou praticamente sinônimo de uma morte lenta e dolorida para qualquer atividade ou relacionamento. Se você adicionar palavras com disciplina, ou hábitos então… Tem gente que irá arrancar os cabelos pensando que quero formar algum tipo de culto autoritário.

Para ouvidos “criativos”, “livres” ou “rebeldes”, mencionar o combo: rotina-disciplina-hábitos é quase como meter uma estaca no meio do peito e pedir que respirem… No entanto, com raras exceções, estou cada vez mais convencida de que não existe real criatividade, liberdade ou rebeldia fora desse pacote. O que a maior parte das pessoas chama de criatividade e liberdade, sem estabelecer hábitos e rotinas com disciplina, são apenas espasmos da vontade, bem sucedidos algumas vezes, ineficientes na maioria, mas que não fazem a pessoa avançar nem meio centímetro além da sua zona de conforto. É o princípio de uma vida pequena, onde o provável começa a se tornar sinônimo de tudo o que é possível, e simplesmente não se vai além do que os ânimos do dia nos impelem a fazer. É aquele sentar na calçada na vida e ficar esperando a inspiração chegar… Vamos ser claros. Ela não chega.

Mel Robbins on Why Motivation Is Garbage | Impact Theory

https://youtu.be/LCHPSo79rB4


Há algum tempo, por conta do meu interesse em organização das tarefas de casa, eu encontrei o blog “A Slob Comes Clean” - depois de ler o livro “How to Manage Your Home Without Losing Your Mind” e rolar uma identificação completa que me fez correr para podcast e todo resto. O encontro do blog e do podcast foi muito útil, pois eu consegui me identificar com um ítem muito especial, algo que a autora chama de maneira divertida de TPAD - Time Passage Awareness Disorder (algo como "Transtorno de conscientização da passagem do tempo"). Segundo ela, se ela não colocar alguma forma de controle como um alarme, um checklist de atividades etc., ela pode perder muito tempo em alguma coisa improdutiva ou perder a noção de que faz muito tempo que ela não realiza uma determinada ação.

Bingo! Achei aí parte do meu problema — e ainda tenho uma consulta de dentista desmarcada no final de novembro e ainda não remarcada, porque parece que foi ontem que isso aconteceu, para comprovar. Quando eu era mais nova, existiam uma série de sistemas em funcionamento que garantiam minha produtividade. Se eu não tinha smartphones com alarme, eu tinha Pai e Mãe pentelhando por atividades específicas. Eu tinha horário de escola, datas de provas e trabalhos, pessoas para responder (especialmente grupos se as coisas não fossem feitas), depois trabalho fora de casa, com horários e análises de desempenho etc.


As coisas começaram a sair do controle mesmo quando na Escola/Faculdade eu passei a ter que responder sobre o meu desempenho apenas para mim mesma, depois virei sócia de empresa (cadê o chefe?), mudei com meu namorado (e me tornei responsável pela minha própria rotina), depois comecei a trabalhar em casa, tive filha… Ou seja, rotinas, hábitos e disciplinas continuavam fundamentais mas agora eu era responsável tanto por estabelece-las quanto por executá-las… Basicamente, deram a chave da cadeia para o bandido.


Durante muito tempo eu resisti a estipular rotinas mais fixas… Resisti por tanto tempo, que o “CHAOS” (a “Can’t Have Anyone Over Syndrome” do método FLY Lady) se estabeleceu na vida doméstica, se estabeleceu na vida profissional e nem vou entrar em detalhes sobre a vida parental. E é difícil gente, é muito difícil constatar isso e assumir que você não vai mudar sua forma de operar na noite para um dia, com o balançar de uma varinha mágica… Que vai ter que adotar pequenos passos, diariamente, regularmente, dia após dia (percebeu o reforço?) até que qualquer melhora possa ser sentida de maneira real.


Atualmente eu começo a ver uma luzinha lá no final, do final, do final do túnel — espero que não seja um trem vindo em minha direção. A primeira mudança prática que eu fiz foi dividir o dia em suas principais áreas de atuação (Casa, Trabalho, Família e Pessoal). Já sabendo que eu gosto de alguma liberdade nas minha rotinas (caso contrário eu jogo contra mim, transformo as rotinas na figura de autoridade que eu tenho que combater), eu criei “Faixas de Horário”:

  • Das 06:00 até as 08:00 é meu horário pessoal. Nessa faixa de horário  eu posso fazer toda aquela rotina matinal dos sonhos (meditar, ler, escrever, desenhar, fazer exercícios) ou simplesmente me render a preguiça e dormir até mais tarde (mas pelo menos já sabendo de antemão do que eu abri mão no dia.
  • Das 08:00 até 14:00 é o horário de casa e da família. Rotinas da filha, de coisas pro marido, fazer comida, arrumar o que eu for arrumar (mesmo que não seja muito), supermercado, padaria, compras etc. O que deve ser feito para manutenção do dia a dia é feito nesse horário… Ou fica para o dia seguinte. 
  • Das 14:00 às 19:00 é o horário de trabalho. Estou lutando com a ideia de que eu devo ser mais produtiva em menos horas, então meu ideal ainda é reduzir o trabalho para 04 horas diárias, especialmente porque eu trabalho 6 dias por semana agora que o marido trabalha em escala e só tem um dia de folga por semana em casa. Se for pra trabalhar oito horas diárias por dia como trabalhar fora, melhor trabalhar fora com uma série de outros benefícios.
  • Das 19:00 até as 24:00 é um mix. Se tudo correu bem nas demais faixas, nesse horário eu me dedico exclusivamente para as rotinas noturnas da Lívia. Se deu errado, eu encaixo tudo o que foi possível aí… Embora o meu foco, no futuro seja mesmo focar na filha e encerrar meu dia bem (ler, assistir uma série etc.
Apenas esclarecer essas distinções e tentar respeitá-las já foi suficiente para algumas melhorias — nem que seja apenas a melhoria de parar de reclamar comigo por não ser capaz de tentar fazer caber São Paulo em Sorocaba (como diria minha Avó).  O próximo passo, que está parecendo fundamental para mim, é estabelecer alguns checklists de coisas básicas que precisam ser feitas em cada horário.

Falo em manter algum controle desse tipo:

@boho.berry
Talvez não necessariamente tão colorido, nem bonito — pq acho que seria difícil de manter, mas algo que torne visível a frequência e as atividades realizadas. Espero continuar caminhando nesse sentido.

Livros Sobre Rotinas e Hábitos que li, amo e recomendo:

sábado, 6 de janeiro de 2018

Vamos dizer Adeus pro excesso de tudo aquilo que não queremos

Novidades… Estou com deficiência de novidades, se é que é possível — meus problemas, minhas questões, minhas preocupações são as mesmas há tanto tempo que eu não consigo deixar de sentir um “peso”… Como diria o “Biquini Cavadão” (sim, eu sou velha, rs): “Como é difícil viver carregando um cemitério na cabeça”.

Biquini Cavadão - Impossível
https://youtu.be/ny1mfGBSZCc


Mas para descobrir novas terras, é preciso adotar algum tipo de orientação — especialmente quando você não faz idéia de para onde ir… A minha orientação, como de antigos navegadores, são as “Três Marias”, rs — a primeira delas: Marie Kondo.

Faça uma busca rápida por Marie Kondo, e resultados não vão faltar. Algumas pessoas são fãs de carteirinha (categoria na qual eu me encaixo), outras odeiam firmemente. No entanto, ainda estou pra encontrar uma crítica negativa a sua proposta de manter apenas aquilo que "lhe traz alegria", que realmente tenha pego a essência da coisa. Não porque essas pessoas sejam "intelectualmente incompetentes", mas porque a mensagem dela não toca tão fundo, como toca para pessoas como eu -- ou seja, são pessoas que nasceram naturalmente organizadas, capazes de nunca acumular tranqueira e que realmente não entendem como isso não é a regra e a lei natural para todos os demais mortais.

Li "The Life-Changing Magic of Tidying Up" aínda em ebook, em inglês, no kindle, muito antes da hype do método KonMari (como ficou conhecido seu método de organização) tomar conta de blogs, vlogs e timelines de Facebook... Fiquei tão apaixonada, que quando a Sextante publicou o livro em português (A Mágica da Arrumação), comprei de novo pra poder ler, grifar, anotar -- coisas que eu só faço com os livros que eu tenho absoluta certeza que sempre serão meus, que não vou vender, doar ou emprestar.

Mas sabe por que eu sou tão apaixonada por essa mulher? Não é porque eu tenha virado a rainha do minimalismo — além de estar anos luz longe disso, essa nem é a proposta do KonMari, algo que muita gente confunde — mas porque ela me ofereceu um framework para lidar com o meu problema com tralhas... Tralhas físicas, emocionais, digitais, de todo tipo.

O "Isso me traz alegria?", pergunta que segundo o método você deve fazer enquanto segura em mãos cada um dos itens que está decidindo se mantém ou descarta, é uma pergunta que serve de orientação geral tanto pra descarte de calcinha bege manchada (situação quase que completamente hipotética — eu jamais teria uma calcinha bege), a compromissos, relacionamentos, atitudes etc.

Marie Kondo não transformou minha casa em capa de Casa Cláudia (ela é Personal Organizer, não é mágica), mas ela já foi responsável por muitos "deixa pra lá!" na minha vida — sem contar em uma ótima assistente em situações em que acumuladores compulsivos como eu tem mania de escolher quantidade ao invés de qualidade. Outro dia vi uma crítica meio simplista num vídeo, em que a mulher falava “Ah, meus utensílios de limpeza não me trazem alegria… Então eu deveria jogar fora?” — aí depois de revirar os olhos 3 vezes, fiquei com uma vontade inútil de explicar pra moça que não é assim… Todo mundo precisa de uma escova de banheiro… Mas há uma diferença significativa entre esses dois:



Colabore incluindo mentalmente nesse segundo algum desgaste e sujeira, porque eu não colocaria uma escova suja e nojenta nesse blog.

Não é uma questão financeira — não é uma questão de ter sempre os ítens mais caros e de luxo. É admitir que na nossa vida, quer desejamos ou não, existem limites, restrições: seu guarda-roupa é o limite da quantidade de roupas que você pode ter (se você, como eu , não quiser ter uma poltrona de leitura que não se senta há meses, coberta de roupas); suas 24 horas no dia são o limite de quantas atividades e compromissos você pode assumir. O método KonMari não prega o minimalismo… Sua ideia não é que você se livre de tudo e more em uma casa vazia: mas que você considere que cada coisa precisa ter o seu lugar, o seu lar, dentro da sua casa. Então ao invés de oferecer estratégias para que você faça caber mais em menos espaço, ou faça mais atividades mais rápido no tempo que tem ele lhe lembra: mantenha apenas aquilo que lhe traz alegria, que faça sentido para você.

Meu exemplo pessoal são meus “livros de cabeceira”. O Bom Senso S.A. (Sociedade Anônima que palpita em tudo que deveríamos fazer e como) diz que “livros de cabeceira” é algo de número maior que 2 (para permitir o plural) e menor que 04, 05 que você mantém na cabeceira para leitura… Mas os meus livros de cabeceira estão atualmente algo assim:


Os livros deitados são aqueles que fazem parte da lista TBR (To Be Read) de Janeiro… Os demais estão na fila sem data marcada. Eu gosto de vê-los assim — isso me traz alegria; diferente das pilhas encostadas nas estantes que eu vejo quando vou pra sala. Faz ver que eu tenho muito o que ler, e muita leitura interessante para esperar também. Tem bastante coisa? Certamente… Mas cada uma delas está em seu lugar, e me deixa feliz como está.

Aí eu me lembro que é Janeiro, que o resto da casa poderia ser assim também… Eu só preciso me tornar mais forte e comprometida em me livrar de tudo aquilo que está aqui porque eu comprei, porque gastei dinheiro e agora me sinto uma idiota de me livrar, mas que absolutamente não faz sentido para a pessoa que eu quero ser.

Conto com o KonMari para isso… Vamos ver.

Livros da Marie Kondo:


sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

Definindo Intenções

Estou com dificuldades de definir intenções para 2018. O final do ano de 2017 foi complicado, com uma sensação de sobrecarga com a qual eu não consegui lidar... E não consegui deixar de carregar essa sensação para 2018... Começando tudo num amontoado de afazeres e coisas por fazer. Nesse ritmo é difícil abraçar a ideia de "Ano Novo, Vida Nova".

Sinto uma certa reticência em estabelecer resoluções -- enquanto eu não fizer isso, posso sentir que vivo num limbo de possibilidades, onde tudo pode ser escolhido, tudo pode ser feito. Depois de fechado o pacote, passo para uma conhecida e nada glamourosa fase em que é fundamental fazer atividades regulares, pequenas, que ás vezes não dão a mínima sensação de que estão acrescentando nada à vida -- e que no final de tudo são mesmo fundamentais.

Como eu bem defini para uma amiga durante 2017:
"Eu me apaixono pela colheita, mas não pelo arado..."
E nessas o tempo passa -- assustadoramente mais rápido do que eu consigo tomar consciência -- e quando eu vejo o ano já foi. Eu sei que existem 05 "linhas de prioridades" de vida na qual as minhas ambições e resoluções atuais tendem a se assentar:

Mais do que grandes "conquistas", para cada área eu me daria por contente em estabelecer uma série de hábitos e rotinas que conseguissem fazer com que eu saísse dessa sensação de caos constante. Não é charmoso, não é glamouroso... Mas eu realmente me daria por muito contente em resolver o arroz com feijão básico da existência.

Como dizem por aí: "Adulting is hard!".